segunda-feira, 18 de agosto de 2008

afinal, pode haver duas maneiras...


«E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.
E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque era muito rico. Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Como é dificil para os ricos entrar no Reino de Deus!» (Mc 10, 17-23)


Há duas igrejas possíveis, que são reais, e podemos facilmente encontrá-las.
Uma é a igreja dos mandamentos: na lógica da relação com Deus, basta cumprir determinados preceitos e regras para “estar de bem” com Ele. Assim, podemos continuar a nossa “vidinha” de todos os dias, sem ter nada de diferente: basta dar-lhe uns “tons” piedosos e religiosos, e pronto! É a igreja das multidões: a igreja que serve para agradar a “gregos e a troianos”, que não põe nada em causa, que está ao serviço das lógicas do mundo, como se não existisse o Evangelho. E na nossa relação com Deus também: dás-me isto, eu dou-te aquilo, somos muito amigos – e nada muda. O importante é ser “boa pessoa” ou “pessoa de bem” e dar-se bem com toda a gente, de consciência tranquila…

A outra é a Igreja do Reino: não, não está tudo bem, não pode estar! A lógica do Reino é outra! Se calhar, Deus não precisa tanto das nossas ofertas, das nossas boas obras e das nossas devoções – precisa da nossa vida. E então, a nossa vida começa a mergulhar numa dinâmica de conversão, de transformação, de uma vontade tremenda de ser mais parecida com este Deus cujo Amor se revela na total entrega na vida de Jesus. Não basta cumprir determinados preceitos e sacrifícios para estar de bem com Deus – mas deixar que mude o que deve mudar… Então, a Igreja deixa de ser a “capelania” do mundo, e passa a ser força profética, de poucos, como o sal e o fermento. É a Igreja dos discípulos, dos que vivem a caminho, caminho de transformação, de entrega, de um amor sempre maior… E o sonho do Reino torna-se uma Nova Humanidade, diferente, outra, não a que o mundo nos oferece…

Claro que é uma leitura muito pessoal… O Evangelho fala-nos da nova ordem que se inaugura em Jesus, a Nova Aliança do Espírito e do Reino, que é um salto face à lógica da letra do Antigo Testamento. A lei de Moisés vem de Deus, e é um caminho de vida, senão Deus mentiria ao seu povo. Mas em Jesus revela-se uma Plenitude de Salvação que obriga a um “nascer de novo”, para a nova Ordem, do Espírito, do Reino. E no seu ministério Jesus bem terá descoberto que há “riquezas” que tornam impossível que a vida mergulhe nesta nova Ordem de coisas… E hoje, continuam a existir as duas lógicas, que acaba por se traduzir em duas “igrejas”, e continua a ser preciso “nascer de novo”…

Jesus…
Sim, é verdade que pode ser assim, costuma até ser assim…
Digo que gosto muito de ti, até te chamo Mestre,
Digo o que quero fazer por ti, pelo Pai,
Digo o que quero construir, mudar, crescer,
E por fim somos muito amigos…

Mas às vezes, tu apareces, Jesus,
Não como o bom amigo, não como o mestre,
Mas apareces tu…
E pedes-me a mim…
Pedes-me que seja teu, que me entregue,
Pedes-me que só queira amar-te,
Pedes-me até que confie em ti…

E se calhar, tudo tem de cair…
Porque já não se trata de regras ou preceitos,
De obras ou vontades minhas…
Trata-se de amar-te,
De ser teu,
Até de deixar que as coisas sejam como tu queres,
Na loucura das tuas bem-aventuranças…

E então percebo,
Que se trata de nascer de novo…
E aí estás, e olhas para mim, e dizes:
“finalmente percebeste”…
um grande abraço e boa semana!

2 comentários:

Anawîm disse...

Que força trazes nas tuas palavras, Rui Pedro... que força!...

Agradeço-te MUITO por ti, pelo que escreves aqui e que acredito ter vindo mesmo de dentro de ti e do que acreditas e sonhas, e para o qual queres caminhar...

Um abraço

Anónimo disse...

Já lí e voltei cá para reler...
E só te posso agradecer a VERDADE que partilhas aqui connosco.

Obrigada por seres uma boa mediação de Deus!