terça-feira, 20 de janeiro de 2009

da Aliança à Eleição e Missão

É costume ouvirmos e dizermos que Deus ama a todos por igual, e isso é verdade. Mas, na lógica bíblica, Deus não ama a todos como um rebanho ou uma multidão, assim nas nuvens… o Amor de Deus é activo, próximo, pessoal, fortemente pessoal, ama a cada um conhecendo-o pelo seu nome, e ama-o de maneira única e original porque cada um de nós e cada relação é única e original. Por isso é um Amor cheio de novidade, que nos acompanha na nossa própria história pessoal.

Assim, na linguagem bíblica Deus ama a todos elegendo… A Eleição é uma experiencia fundamental que percorre todas as páginas da Bíblia: Deus, para amar a todo o Povo, elege de maneira especial homens e mulheres concretos que, experimentando esse Amor, se tornem para todos mediação desse Amor. Assim, para libertar o Povo do Egipto, Deus elege a Moisés; para liderar o Povo, elege a David e depois a todos os reis; para conduzir o Povo à Aliança pela Palavra, elege os profetas… todos os textos dos profetas têm sempre um relato de vocação ou eleição, de experiencia do Amor de Deus que conduz à missão. É o que encontramos em Jeremias por exemplo:

«A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.» E eu respondi: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem.» Mas o Senhor replicou-me: «Não digas: 'Sou um jovem'. Pois irás aonde Eu te enviar e dirás tudo o que Eu te mandar. Não terás medo diante deles pois Eu estou contigo para te livrar» - oráculo do Senhor. Em seguida, o Senhor estendeu a sua mão, tocou-me nos lábios e disse-me: «Eis que ponho as minhas palavras na tua boca» (Jer 1,4-9).

Sobretudo a partir do séc. VII com Isaías, Israel começa a compreender a sua Aliança numa visão Universal: o seu Deus, do Deus da Aliança, não é apenas o Deus de Israel mas o Deus de toda a Humanidade, e toda a Humanidade é chamada a pertencer a esta Aliança. Então, a missão de Israel seria o da Eleição, o de ser mediação, para todos os povos, da revelação do Projecto de Deus para a Humanidade, Projecto de Aliança. Israel tornar-se-ia o centro onde todos os povos viriam para conhecer o verdadeiro Deus e o seu Projecto. É o que encontramos no sonho de Isaías:
«No fim dos tempos o monte do templo do Senhor (Jerusalém) estará firme, será o mais alto de todos, e dominará sobre as colinas. Acorrerão a ele todas as gentes, virão muitos povos e dirão: «Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém, a palavra do Senhor. Ele julgará as nações, e dará as suas leis a muitos povos, os quais transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra. Vinde, Casa de Jacob! Caminhemos à luz do Senhor» (Is 2,2-5; 60,1-4)

A partir daqui é aprofundado sentido da Promessa a Abraão; Abraão é uma figura que terá vivido cerca de 2000 anos antes de Jesus, e o seu nome terá passado pelas gerações através da memória e da tradição oral, até chegar a Moisés e ao nascimento de Israel como Povo; seria como o nosso Viriato, aqui na Lusitânia. Abraão será considerado, ao longo da história do Antigo Testamento, como o pai do povo de Israel, e com ele terá Deus iniciado uma história de Promessa e Eleição que daria origem a Israel e em quem todas as nações seriam beneficiadas. Porque através de Abraão e de Israel Deus daria a conhecer a toda a Humanidade o seu Projecto de Salvação:
«Juro por mim mesmo, declara o Senhor, que, por teres procedido dessa forma e por não me teres recusado o teu filho, o teu único filho, abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência (o Povo de Israel) como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar. Os teus descendentes apoderar-se-ão das cidades dos seus inimigos. E todas as nações da Terra se sentirão abençoadas na tua descendência» (Gen 22,16).

Esta linguagem da Eleição será fundamental para compreender o Novo Testamento, sobretudo a proclamação de Paulo. É através de um Homem, um Filho, que Deus inaugura a Salvação para toda a Humanidade: n’Ele todos somos beneficiados, e se Ele Ressuscitou, também nós ressuscitaremos com Ele, porque o seu Espírito, o grande Dom de Deus, é dado a toda a Humanidade.«Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para também com Ele sermos glorificados» (Rom 8,17-18).

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