sábado, 31 de janeiro de 2009

Preciosos... por um alto preço

Dedicado...
Foi Ele que nos amou...
Tive o privilégio de não deixar de escutar, desde ontem, uma frase tremenda de Paulo: «Fostes adquiridos por um alto preço!» (1Cor 6,20). O Apóstolo refere-se à Páscoa de Jesus que se torna a nossa Páscoa (1Cor 5,7), na qual toda a Humanidade é abraçada. Também na 1ª Carta de Pedro surge a expressão: «Fostes resgatados não a preço de bens corruptíveis, prata ou ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo» (1Pe 1,18). Ambos referem-se ao sangue dos cordeiros que salvou os israelitas da morte dos primogénitos no Egipto, marcando-os como o povo eleito.

No acontecimento do Exodo, o Povo experimenta um Amor privilegiado, preferencial de Deus, que elege, escolhe, cuida… salva. Aqui abusa das expressões: fala do amor ciumento de Deus (Dt 4,24). O que está em causa é o Cuidado, a Ternura de Deus que nos ama e, no seu Amor, nos embeleza. Estamos demasiado habituados a pensar na beleza, no cuidado, na estima por nós próprios como inimigos, ou de um Deus que nos rouba a alegria e a qualidade de viver… Então, porque utiliza a escritura textos como este para falar da relação de Deus com o seu Povo, pela boca do profeta Ezequiel:

«Vesti-te com vestes bordadas, calcei-te sandálias de cabedal fino, cingi-te a cabeça com um véu de linho e cobri-te de seda. Ornei-te de jóias, pus-te braceletes nos pulsos e um colar ao pescoço. Coloquei-te um anel no nariz, brincos nas orelhas e uma coroa de ouro na cabeça. Ficaste, assim, ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda e recamado de bordados. Como alimento, tinhas a flor de farinha, o mel e o azeite. Tornaste-te extraordinariamente bela e chegaste à dignidade real» (Ez 16,10-13).

Quase parece que escutamos as finas palavras de Lucas, numa passagem de extrema densidade: «Quando ainda estava longe, o Pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’Mas o Pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés.» (Lc 15,20-22).

A experiencia que está por debaixo, desde Ezequiel até Paulo e Lucas, é que somos Preciosos para Deus! Somos Preciosos aos olhos de Deus! E a melhor prova desse Amor, dessa Valor que temos, é a Salvação, o Projecto, a Páscoa que é realizada para nós, por nós e em nós! «Esta é a noite que Deus preparou» cantamos na Vigília Pascal… Se Deus preparou e prepara isto para nós, um Abbá a revestir-nos de dignidade filial, da gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Rom 8,21), liberdade que é dom de Cristo (Jo 8,36; Gal 5,1)… então porque tornamos, ou vemos o nosso rosto tão marcado e a nossa história tão impura? Esta linguagem não tem lugar no Anuncio Salvador de Deus.

Não deixa de ser interessante regressar a Paulo: por duas vezes afirma, na Primeira Carta aos Corintios, o alto preço que temos para Deus, alto preço que Deus não deixa de pagar e que é a vida de Jesus, e das duas tira conclusões: «Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo», corpo que «é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus» (1Cor 6,19-20). E na outra afirma: «não vos torneis escravos dos homens» (1Cor 7,23). Mesmo permanecendo na condição social de escravo (é um texto escrito há 2000 anos), a nossa vida tem um Senhor maior, que é um senhorio de Liberdade, que nos devolve a nós próprios.

Linguagem de relação, de Aliança, de pertença, de Valor, de algo Precioso. Como o Reino, que é «uma pérola de grande valor» que leva a vender todos os bens para a adquirir (Mt 13, 46). E assim a Comunidade, a Igreja, a Humanidade torna-se como Paulo a sonha, tal como Ezequiel sonhara Israel: «Como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra. Ele quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada» (Ef 5,25-26). E Paulo comete a ousadia de afirmar os seus ciúmes: «Sinto por vós um ciúme semelhante ao ciúme de Deus, pois vos desposei com um único esposo, Cristo, a quem devo apresentar-vos como virgem pura» (1Cor 11,2). E tudo porque «foi Ele mesmo que nos amou» (1Jo 4,10)

Gostava que todos os meus irmãos experimentassem,
Com os olhos na Páscoa, naquela Páscoa preparada, gerada
Na vida entregue e filial do Filho,
No Dom do Espírito de Amor,
Gostava que todos os meus irmãos experimentassem
Esse Alto Preço…

Esse Valor… somos Preciosos…
Porque um Amor, um Senhor deu-se por inteiro
Para nos resgatar… para nos Salvar
No parto de uma Vida Nova, Filial
De uma Liberdade. Gloriosa.

E aconteceria essa linguagem, a que Paulo chama de
«insensatez da minha parte» (1Cor 11,1)
De falar em termos de Amor e Aliança…
E então descobríamos, eu descobria,
Que nada há de mais precioso, belo, valioso
Que o nosso rosto, a nossa história, a nossa maravilha
De sermos pessoas… «templos do Espírito Santo»,
A curar, a beijar, a cuidar… a salvar
um grande abraço!

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