terça-feira, 8 de setembro de 2009

IV. Na Páscoa, um Diálogo Familar, para nós...

Naturalmente, se me pedissem para narrar com umas palavras minhas a História de Deus connosco, História de Ternura e Salvação, o ponto de partida lógico seria o próprio Mistério de Deus. De facto, o Cosmos, a Humanidade, a aventura de Israel, o acontecimento de Jesus como pessoa, tudo nasce e brota de um Mistério Familiar que é desde o princípio, eterno, maior… Antes de existirem as estrelas e os planetas, já havia uma Família de Amor…

Mas a verdade é que, se estivermos atentos, vemos que este Mistério Familiar não se revela de modo pleno no início da História, senão “a meio”, por assim dizer: na Páscoa de Jesus. É na Páscoa de Jesus que irrompe na nossa história o rosto Familiar de Deus de um modo pleno, com o poder que marca, por exemplo, o nascimento de um bebé na vida de um casal. O Mistério Pascal é o drama de um Amor Familiar, Eterno, a acontecer diante dos nossos olhos e a abraçar-nos nesse Amor: o drama de um Filho, amado, gerado, ressuscitado num nascimento pleno para o Pai, no poder de Vida e Amor que é o Espírito Santo.

Se interrogarmos o Novo Testamento, este responde-nos que o nome de Deus já não o YHWH de Ex 3,14, mas “o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Cor 1,3), “que a nosso favor ressuscitou Jesus” (Act 13,33). Muitas vezes partimos da ideia que temos sobre Deus, muito a partir da ideia que temos do Antigo Testamento, e vemo-lo então nessa acção de ressuscitar a Jesus: muitas imagens presentes nas nossas igrejas vão por aí, um velhote de barbas brancas diante de Jesus na cruz e uma pomba no meio.

Mas o Novo Testamento lê o Antigo à luz da Páscoa de Jesus, o Filho, e não o contrário: por isso toda a história, lida à luz da fé, é abraçada por esta Páscoa, e todo o projecto que é a Criação encontra n’Ele o seu sentido: no nascimento filial com Jesus, no abraço familiar e paternal de Deus.

A Páscoa, o pleno nascimento filial de Jesus, é o grande acontecimento do Espírito, Vida e Amor de Deus (Rom 5,5); é pelo Espírito que Jesus é “estabelecido Filho de Deus com poder na sua Ressurreição” (Rom 1,4). Os Evangelhos proclamam este Mistério Familiar como o centro mais profundo, o segredo do mistério pessoal de Jesus: na sua relação com o Pai, animada pelo Espírito Santo, apresentando-a em dois quadros ou ícones: no Baptismo no Jordão, e na Cruz. «Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.» (Mc 1,10-11)

Quão longe estamos já de ver o mistério pessoal do nosso Deus como se fosse matemática ou filosofia, um ser divino ou supremos, absolutamente distante “noutro mundo”, uma espécie de 3=1! Na Páscoa encontramos um Rosto de Deus absolutamente presente na nossa história, um Amor Eterno que está a acontecer diante dos nossos olhos e a envolver-nos: um Pai que ama absolutamente, plenamente o seu Filho, gerando-o e ressuscitando-o na Plenitude do Espírito. Quando João proclama que Deus é Amor (1Jo 4,8), de longe não é um amor sem rosto ou abstracto: é um Amor tão forte capaz de transformar a morte, e o pecado, expostos na Cruz (Col 2,14).

E quando nós proclamamos, com João, que Deus é Amor, já nos descobrimos abraçados num Amor Familiar a quem a história da Humanidade pertence. Um Amor Eterno, Familiar, plenitude de comunhão pessoal, de um Pai que é Pai amando e gerando o seu Filho, num Amor tão… capaz de pronunciar, na Hora da Glorificação (Jo 17,1), «Tu és meu Filho, eu hoje te gerei» (Act 13,33). E nessa Hora Pascal, preparada para nós por este Diálogo Familiar, lá nascemos e somos amados. Eternamente. «O Espírito do seu Filho pelo qual clamamos Abbá, Pai!» (Gál 4,6)…




!Convite!: no blog www.redentorista.blogspot.com, encontramos uma partilha de um redentorista espanhol, Victor, sobre a sua experiencia missionária na Nicarágua. Vale a pena uma visita por lá!

2 comentários:

calmeiro matias disse...

Obrigado Rui Pedro
Vê-se que Deus está a ganhar um lugar especial no teu pensamento e, portanto, na tua vida.
Um abraço
Calmeiro Matias

calmeiro matias disse...

Obrigado Rui Pedro
Vê-se que Deus está a ganhar um lugar especial no teu pensamento e, portanto, na tua vida.
Um abraço
Calmeiro Matias