domingo, 27 de setembro de 2009

Tornar-se Cristão...

Por vezes temos a ideia que tornar-se cristão significa tornar-se mais religioso: passar a acreditar que Deus existe, andar com uma cruz ao peito ou com a imagem de Jesus na camisola, passar a frequentar as cerimónias religiosas…

A palavra religião vem de re-ligar, e significa todos os esforços e procuras que o ser humano faz para se ligar com o transcendente. Em toda a história o homem sempre procurou respostas para as perguntas mais importantes da sua vida.

É claro que tornar-se cristão pressupõe a dimensão religiosa de abertura ao transcendente; mas não se trata de escolher uma entre as várias religiões, como num supermercado, assistir a alguns ritos e cerimónias e praticar algumas condutas morais.

Nos Evangelhos vemos que Jesus não chama os discípulos para que estes se tornem pessoas religiosas: eles já eram judeus, já conheciam o Deus de Israel do Antigo Testamento. Jesus não os chama para que eles se tornem judeus mais praticantes, não os chama para irem mais vezes ao templo de Jerusalém. Convida-os para que, com Ele, descubram juntos a novidade do Rosto e do Amor de Deus, o Reino de Deus.

Jesus também era acusado de chamar discípulos que não eram considerados como “bons judeus”: o caso de Levi (também chamado de Mateus), cobrador de impostos, uma profissão mal vista na altura. Jesus não lhe pede que “regresse” à prática judaica, mas que o siga. E a transformação acontece na vida de Levi. O mesmo acontece com Zaqueu.

«Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o. Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos. Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?» (Mateus 9,9-11)

Temos também o caso de Paulo: ele próprio diz que era um judeu exemplar, pertencia a uma classe de judeus ultra-patricantes, os fariseus. No entanto, teve de “cair” ou “dar um salto” para descobrir que a lógica de Deus, em Jesus, é outra: Deus não quer um grupo de religiosos praticantes, mas uma Nova Humanidade de irmãos e irmãs que nascem para uma Vida Nova no Amor!

Tornar-se cristão, ou discípulo de Jesus, é pôr-se a caminho para descobrir, na nossa vida, o Rosto de um Deus que é Amor. É ir abrindo os olhos e os ouvidos para ver e escutar como Deus está a agir na nossa história, amando-nos na mais bonita Graça e Liberdade.

Assim, torna-se cristão não é praticar uma religião mas é escrever um Projecto de Vida, ir crescendo e assumindo nas nossas opções e atitudes os critérios e prioridades de Jesus. É levar a nossa própria vida a sério, realizando-a no que é mais importante e que não morre: o Amor.

Os cristãos são pessoas religiosas no sentido em que vivem abertos e atentos à presença de Deus nas suas vidas, a presença de um Amor sempre novo e sempre maior que nos convida, interpela e chama a viver no Amor. Não basta dizer que acreditamos num deus lá nas alturas, como acreditamos na existência de Saturno!

Do mesmo modo, os cristãos não “assistem” a ritos e cerimónias religiosas, mas reúnem-se para, juntos em comunidade, descobrir de novo o Rosto e a Presença de Deus e celebrar a Nova Humanidade que nasce com Jesus; os sacramentos são celebrações com uma linguagem simbólica para proclamar esta Boa-Notícia!

Grande Abraço e Boa Semana!

5 comentários:

Ana Ascensão disse...

Obrigada Rui Pedro por esta partilha...
Neste momento, veio a calhar mesmo bem :)

Ah e aproveito para dizer que tenho seguido o blog dos cartoons e que gosto muito de por lá passar :D

Uma beijoca*

calmeiro matias disse...

gostei da maneira como distinguiste a vivência e o compromisso da fé de tantas práticas religiosas que, por vezes, só geram obscurantismo.
Um abraço
Calmeiro Matias

calmeiro matias disse...

gostei da maneira como distinguiste a vivência e o compromisso da fé de tantas práticas religiosas que, por vezes, só geram obscurantismo.
Um abraço
Calmeiro Matias

mila disse...

Obrigada Rui Pedro!
Depois da partilha que fiz no meu blog,surpreendo-me com a tua, e adorei ler-te! Senti uma especie de complemento áquilo que eu quis dizer... Olha, posso um dia colocar este post no meu blog? Gostei mesmo muito muito!!!

Rui Vasconcelos disse...

Olá Mila!
Com certeza que podes colocar o texto, este e os outros, estão à disposição.
Este texto "saiu" do encontro do GJovens daqui de Gaia-Cristo Rei, como re-início de actividades.

Um grande abraço Mila, e para todos os que comentaram e passaram por aqui!