terça-feira, 19 de abril de 2011

Uma Leitura Pessoal da Crise (III)


Os dados do recente Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2010 apontam para o seguinte: calcula com que a recente crise económica 34 milhões de pessoas a nível global perderam os seus empregos, e outros 64 milhões caíram para o limiar de pobreza de 1,25 dólares diários de rendimento (menos de 1 euro por dia, exactamente 87 cêntimos). Isto eleva para uma estimativa de 1,44 mil milhões de pessoas que vivem diáriamente com menos de 1 euro (num total de 6,92 mil milhões, ou seja, quase 1 em cada 5 pessoas no mundo vivem com menos de 1 euro por dia).

O Programa vai mais longe: num indicador multidimensional de pobreza, o programa aponta que 1,75 mil milhões dos 104 países cobertos pelo estudo, quase um terço da sua população, vive uma privação grave na área da saúde, na educação ou no padrão de vida. Metade destas 1,75 mil milhões de pessoas vive no Sul da Ásia e um quarto em África. Declara também o Programa que para cada país onde a desigualdade de rendimentos entre a população diminiu nos últimos 20 a 30 anos, houve dois países em que essa desigualdade aumentou.

« Os últimos 20 anos viram progressos substanciais em muitos aspectos do desenvolvimento humano. Hoje em dia, a maior parte das pessoas tem mais saúde, vidas mais longas, mais instrução e maior acesso a bens e serviços. Mesmo nos países que enfrentam situações económicas adversas, a saúde e a educação das pessoas têm melhorado significativamente. E tem havido progressos, não só no melhoramento da saúde e da educação e do aumento do rendimento, mas também na ampliação da capacidade das pessoas para seleccionarem os líderes, influenciarem as decisões públicas e partilharem o conhecimento. Contudo, nem todos os lados da história são positivos. Estes anos também assistiram ao aumento de desigualdades – tanto dentro dos países como entre eles – bem como a padrões de produção e consumo que se têm crescentemente revelado como insustentáveis.»

« O progresso no rendimento varia muito mais. Apesar do progresso agregado, não há convergência no rendimento – em contraste com a saúde e a educação – porque, em média, os países ricos cresceram mais depressa do que os pobres ao longo dos últimos 40 anos. O fosso entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento persiste: um pequeno subconjunto de países permaneceu no topo da distribuição de rendimento mundial e somente uma mão-cheia de países inicialmente pobres se juntou a esse grupo de alto rendimento.»

Procurar compreender bem os factores e motivos que estão por debaixo desta "Crise" será o primeiro passo para a superar. Reduzir esta crise a um ambito apenas económico e financeiro é insuficiente, é necessário alargar a perspectiva e demonstrar como uma sociedade global injustamente desiquilibrada em termos de desenvolvimento humano, bem-estar social e económico, horários de trabalho e possibilidades de consumo só pode entrar em crise. Um sociedade cujos niveis de consumo e produção são insustentáveis, não só para o meio ambiente, como para as vidas de milhões de pessoas que sustentam, com os baixos niveis de vida e as sobrecargas de trabalho, estes níveis.

É uma sociedade global, um sistema "com pés de metade de barro", apesar de parecer ter "cabeça de ouro fino o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, as pernas de ferro", na linguagem do profeta Daniel. Basta que caia uma "pequena pedra de montanha", até sem intervenção de mão alguma, para que derrube os pés de barro e argila e, com eles, todo o corpo. Esta Crise, não será sinal deste derrube, senão da tempestade, pelo menos das nuvens?

(Continua). Um Grande Abraço!

P.S: Se alguém estiver interessado, pode consultar o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Aqui.

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