sábado, 9 de fevereiro de 2013

09.02


Já não entrava na casa há algum tempo - há bastante. Estava fechada, com todos os sinais de abandono: muito pó nos móveis e no chão, algumas traves caídas, lençóis a cobrir os sofás, uma escuridão absoluta... já mal me lembrava onde tinha a chave da casa, tive de a procurar bem...

Duas ideias fizeram-me regressar à casa, duas frases: uma, do redentorista Bernhard Häring (na imagem) a explicar que, quando Jesus anuncia - como o mensageiro das boas notícias de Isaías 52,7 - «cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está proximo: convertei-vos e acreditai no Evangelho», o termo «convertei-vos», mais do que arrependimento e penitência - que também o é - remete para o oráculo de Ezequeil 36,26: «Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um espírito novo: arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne.» Um coração novo, um espírito novo - é esse o verdadeiro significado de conversão.

Outra ideia, foi-me transmitida pelo meu amigo Gustavo. Jesus poderia ter anunciado um reino novo declarando o fim dos governos de então, o de Roma e o de Jerusalém, o fim do regime, a mudança dos senhores. Poderia ter anunciado isso - e a multidão teria acorrido a Ele gritando «Hossana, bendito o que vem em nome do nosso pai David», como o fizeram mesmo. Poderia tê-lo feito. Mas não o fez.
 
Em vez disso, seguiu os passos do seu mestre João Baptista, anunciando que a mudança, a conversão, passa por todos, e que ninguém pode dizer que é filho de Abraão - contando estar seguro. Todos são «despertos»: «o que havemos nós de fazer?», perguntavam a João nas águas do Jordão. Todos: até soldados e cobradores de impostos (Lc 3,7-14).
 
Ele seguiu os passos: anunciou um Reino novo, mas no qual todos temos de dar a outra face, de caminhar mais uma milha, de aceitar nas nossas sinagogas os possuidos, de ver entrar à nossa frente as prostitutas e cobradores de impostos, de perceber que temos de pagar o tributo a César porque não nos conseguimos livrar das moedas com a sua imagem. Anunciou que o Reino acontecia deste modo - e a multidão gritou «crucifica-o».
 
Recebi estas duas ideias, e fizeram-me voltar àquela casa, há algum tempo solitária. Cheguei, e percebi que teria muito a arrumar, muitas janelas a abrir, muito a reconstruir. E agradeci pelo dom dos dias.
 
 
 

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