quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A Liberdade do nosso Paráclito...


Numa noite, virou-se Jesus para Nicodemus, um homem que descobriu que afinal: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. Aquilo que nasce da carne é carne, e aquilo que nasce do Espírito é espírito. Não te admires por Eu te ter dito: ‘Vós tendes de nascer do Alto.’ O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito. (Jo 3, 5-8)

Estou a descobrir a presença do Espírito Santo na minha vida de uma maneira que ainda não compreendo totalmente. Tenho certo isto: a Liberdade do Espírito na nossa vida é condição para a sua Missão de Paráclito, de Advogado. O Espírito como Advogado chama-nos para outra figura que aparece no Antigo Testamento: o chamado Advogado de Acusação, o Divisor, que em hebraico se diz satan; no livro de Job a sua função é clara: dividir entre o Homem e Deus. O satan é o conjunto de todas as experiencias e realidades que de facto nos colocam de costas para Deus!

O Livro de Job, no Antigo Testamento, é interessante: conta a história deste homem que contava com Deus para obter uma vida “bem fornecida”, a todos os níveis; correspondia a uma noção de Deus no judaismo em que o colocava como justificação da riqueza dos ricos, e da pobreza dos pobres, ou seja, um deus que não é agente de mudança, mas motivo de estagnação. E depois, mostra como Job se coloca diante de Deus quando surgem as catástrofes (que é o que uma mudança mais forte parece à primeira vista) na sua vida. Não que seja Deus a enviar catástrofes, mas é Deus quem deve garantir o que nós esperamos e queremos? Explico-me: como nos colocamos diante da Liberdade de Deus na nossa vida, quando não recebemos bem o que esperamos, mas algo de novo e diferente, que se calhar, só Deus-Pai entende?

Por isso a Liberdade do Espírito, como o vento: temos muito a mania de estabelecer “quotas de produção” para o que Deus nos deve providenciar; mas um caminho de Fé precisa absolutamente de momentos de crise, de questionar-se e questionar a Deus, como Job, como Nicodemos… para renascer. E o Espírito Paráclito vai-se libertando dos nossos esquemas e vai actuando com a sua força maravilhosa, que só uma grande confiança pode acolher. Se satan é o Advogado de Acusação que nos divide a nós próprios e com Deus porque nos convida a “maldizer a Deus” (Job 2, 5) – e não é preciso que seja um monstro vermelho, a nossa vida tem suficientes experiencias que nos induzem a “maldizer a Deus” – o Espírito Santo, esse sim, uma Pessoa e uma Pessoa Divina, é o nosso Advogado da Defesa: não está connosco para dividir mas para unir, inspira-nos a saber “bendizer”, a Deus pela nossa vida, e à nossa vida por Deus… E é livre: livre dos nossos esquemas, quotas, projectos. Porque se nos fechamos neles, como Job, só somos capazes de maldizer se não se cumprem; se deles nos abrimos, bendizemos porque descobrimos todas as maravilhas que o Espírito constroi connosco, ainda que ultrapasse esses projectos, e que nós sozinhos, nunca poderiamos imaginar. Porque a Liberdade do Outro obriga-me à Fé nele…

Um grande abraço

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