quarta-feira, 31 de outubro de 2007

o Semeador e a força da Semente...

Olá! Outra economia que começo aqui é o da partilha da minha leitura espiritual do Evangelho, sobretudo das Parábolas de Jesus. Esta, a do Semeador, tive o privilégio de a meditar em contexto comunitário de celebração da Eucaristia, o que agradeço muito. Em princípio será todas as semanas e, como na oração, também vos convido a partilhar um pouco o que o texto bíblico vos possa suscitar!



Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas, quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raiz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça.» (Mc 4, 3-9)

As parábolas dos evangelhos são talvez a parte mais conhecida e que melhor guardamos na nossa memória, de ouvir na catequese e nas eucaristias. Por isso podemos compreender porque Jesus as utilizou tanto no seu ensinamento: são um estilo de anúncio que fica gravado em nós tal como tantas histórias populares que ouvimos na infância.

No entanto, costumamos cometer um engano muito facilmente, ao debruçarmo-nos sobre as parábolas de Jesus: retiramos imediatamente as consequências morais, tipo “o moral da história”, o que devemos ou não fazer, o que devemos ou não ser. É importante compreendermos que Jesus, nas parábolas como em todo o seu anúncio, não se preocupa em dizer como nos devemos comportar ou como devemos chegar ao Reino, mas preocupa-se em anunciar e ensinar como o Reino de Deus chega até nós, o que é muito diferente!

A primeira leitura que temos de fazer é descobrir o que Jesus quer dizer de Deus e da emergência do seu Reino, que já está a acontecer, já é uma realidade à qual temos de aderir, assumir e acolher! As Parábolas são aproximações (é este o significado de para-bolê, atirar para junto de, aproximar-se) a uma realidade que é maior que todas as palavras, discursos e definições. Por ser uma realidade dinamica em emergência, a do Reino, exige de Jesus e de todos os evangelizadores uma linguagem que abra os sentimentos e experiencias de quem escute, não que encerre em fórmulas!

Por exemplo, no caso desta parábola do Semeador, a personagem central a quem Jesus se refere é o Semeador que, dirá a seguir, semeia a Palavra. É deste Semeador e desta Semente que Jesus fala! A questão da terra como o nosso acolhimento da Palavra é fundamental, mas vem só a seguir!

Paremos um pouco então nesta personagem: é muito interessante ver que nós preocupamo-nos tanto pela semente que não encontra boa terra mas, pelo que parece, o Semeador não se preocupa muito com isso! Semeia e… pronto! Não afungenta os pássaros, não está atento às pedras e caminhos, não arranca os espinhos… Só semeia!

O Reino é uma realidade a emergir de modo universal, dinâmico e continuo, e não existe nenhuma força ou obstáculo que o impeça de acontecer. A sua lei fundamental, a do Amor e da Humanização, acontece e emerge no meio de todas as dificuldades e bloqueios. A Palavra de Deus acontece, é proclamada com toda a força e vitória na Ressurreição de Jesus! O Semeador é um Pai muito mais preocupado em dar-se plenamente como Amor Criador e Salvador do que em ver quem é que o acolhe ou recebe!

A Semente é um exemplo muito utilizado por Jesus para falar do Reino: significa uma força em potência, não evidente mas dinamica, que cresce e fecunda segundo as suas próprias leis: O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si (Mc 4, 26-27).

A Palavra acontece no coração dos homens pelos apelos e inspirações do Espírito Santo, no sentido da humanização e do Amor: quando acolhidos, convertem-se em opções e atitudes que entram na dinamica do Reino. E nada há mais livre e fecundo do que o Espírito Santo, que optimiza e fecunda todas as possibilidades e caminhos de acolhimento e escuta, no meio de todos os bloqueios e recusas, de todas as rochas e espinhos!

A seguir à parábola, temos a sua explicação, que tanto pode ser, segundo a exegese, da boca de Jesus ou da comunidade na qual Marcos escreve o seu evangelho. Como todas as boas histórias, o seu final é feliz: depois de três situações em que a semente não germina, a parábola termina com a semente a dar fruto segundo trinta, sessenta ou cem, segundo as possibilidades de cada um. No fundo, embora todos experimentemos a realidade do não-acolhimento e do pouco espaço para a Palavra, o que é certo é que em todos, cada um segundo as suas possibilidades, ela acaba por ser fecunda. Isto porque a sua força está nela própria e não no nosso acolhimento e, embora o Amor de Deus não se imponha em nós, Ele, o Espírito Santo, é infinitamente mais capaz e mestre de fecundar a Palavra na nossa vida do que nós imaginamos.

Só nos resta a esperança e a fé, que Jesus procurava gerar nos que o escutavam com as suas parábolas sobre o Reino.

um grande abraço

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