domingo, 18 de novembro de 2007

a Semente: há leis que devemos respeitar...


Disse Jesus aos seus discípulos: O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. E, quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa. (Mc 4, 26-29)

Aqui Jesus não fala dos campos em que cai a semente, ou seja, do seu acolhimento ou desperdício. Aqui o campo não interessa – interessa a semente e o semeador. O semeador porque sai a semear. Mas depois de semear, vive. Faz a sua vida, caminha no dia-a-dia, espera, confia. A semente porque germina, cresce, dá fruto. Parece que independentemente seja do que for. Gosto desta parábola, que vem a seguir à da semente e dos quatro campos que a recebem (os pássaros, os espinhos, as pedras - lembram-se?). Gosto porque depois de me preocupar com o acolhimento da semente, tenho de me dar conta da própria semente e das suas leis. E da generosidade do semeador.

Antes de ir à parte da “moral da história” ou da “mensagem para mim”, há que respeitar a própria parábola. Não podemos perguntar-lhe logo o que nos quer dizer, há que deixá-la falar por si. Muitas vezes, quando lemos estes textos do Evangelho, não lhe damos tempo para que fale. E, quando alguém de quem gostamos vem conversar connosco, não a bloqueamos com “diz-me logo o que tens para me dizer!”. Conversamos, muitas vezes sem utilidade nenhuma. Ou estamos, simplesmente, em silêncio. Há que ter em atenção como lemos, sozinhos ou comunitariamente, o Evangelho.

Procuremos compreender o que nos quer falar Jesus: do Reino. Gosto da imagem da semente, e do semear: revela vida, vitalidade, dinâmica, crescimento, geração. O semear é investir, é dar-se, é oferecer de graça à terra para que ela faça brotar. O semeador semeia: sempre, nas parábolas de Jesus, o semeador semear, sem olhar para mais nada, a qualidade da terra, os perigos, os ritmos. Semear, e pronto. Porque gosta, é assim que é – semeador.
A semente, diz o Evangelho, é “a Palavra”(Mc 4, 14); é também “o Reino” (Mc 4, 31). Também “se morrer, dará muito fruto” (Jo 12, 23). Parece que Jesus gosta muito da semente para falar do que lhe é mais importante.

Ao lermos uma parábola, a pergunta que temos de fazer é: o que me diz de Deus? Que jeito de ser e agir me apresenta? E só depois disto, é que transpomos para a nossa vida. As parábolas não nos oferecem moralismo – oferecem-nos o Reino.
Pessoalmente, gosto do Semeador: em Jesus de Nazaré descubro a confiança total no anúncio e na vida pelo Evangelho, a entrega, a doação. Jesus não guardou a semente da Palavra: espalhou-a. Deixou ao Espírito Santo a tarefa de a fazer acontecer no coração dos que o ouviam. Quando fez exigências de acolhimento e conversão, não o pediu para si próprio, mas para a Palavra que anunciava. E não esperava pela resposta para anunciar. Morreu, sem ver os frutos do que semeou.

A semente possui as suas próprias leis. Cresce, germina. Como o fundamental da vida. Como o Amor, por exemplo. Como tudo o que é humano e pessoal, a liberdade, a responsabilidade, as relações. Precisam de tempo, têm leis próprias, que não dependem da nossa vontade. A nós compete-nos semear, investir, tomar iniciativas a partir apenas da esperança e da fé. Amamos gratuitamente, e semeamos. É assim que o Pai age connosco. Não exige, não força, não coloca prazos de produção. E não deixa de semear a sua Palavra e o seu Amor nas nossas vidas. E depois o Espírito vai actuando e consagrando as nossas possibilidades, talentos e opções para fazer germinar essa semente.

Coloquemo-nos nas nossas vidas, nas nossas histórias. O Semeador é o Pai, que semeia, e espera. A semente são as possibilidades de amor, vida e liberdade que recebemos na nossa história. Jesus olhava os campos, e via a semente a germinar; olhava a história, e via o Reino a acontecer; olha-nos, e vê o Homem Novo a nascer.
Não teremos então um convite à esperança e confiança a semear, à paciencia e ao respeito no esperar, seja connosco próprios como com os nossos irmãos?
Um grande abraço

1 comentário:

Anónimo disse...

obrigado poreste post
às vezes eu tenho pressa e quero ver logo os frutos.
Acabas de me ensinar que os frutos têm o seu temopo próprio e que eu devo semear na fé e na esperança.
Mais uma vez obrigado