terça-feira, 1 de janeiro de 2008

é como um Grão de Mostarda...



«Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com qual parábola o representaremos? É como um grão de mostarda que, ao ser deitado à terra, é a mais pequena de todas as sementes que existem; mas, uma vez semeado, cresce, transforma-se na maior de todas as plantas do horto e estende tanto os ramos, que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra.» (Mc 4, 30-32)

As Parábolas que Jesus apresenta para falar do Reino de Deus não são apenas uns meios didácticos, como que pedagógicos para tornar a Mensagem mais acessível aos que o escutam; as Parábolas não são histórias de criancinhas com uma moral no fim, nem são meios para chegar a definições, conceitos ou doutrinas sobre o Reino. Não há definições, conceitos ou doutrinas sobre o Reino de Deus, porque não as encontramos em Jesus.
As Parábolas são em si a Mensagem do Reino, possuem em si todo o seu significado e força! Parâ-boleô, palavra grega, significa atirar para junto de, aproximar: as Parábolas são em si dinâmicas, fortes, desenvolvem-se, não são teóricas e paradas como as definições – por isso chegam melhor ao Reino. E assim comprometem aqueles que as escutam – parece que Jesus está a pensar connosco, a descobrir connosco o que é, ou onde acontece este tal Reino de Deus: “com que havemos de comparar o Reino de Deus?”

Aqui compara-o com um grão, uma semente de mostarda, no seu tempo a mais pequena então conhecida, minúscula. É assim quando é semeada. Mas cresce e torna-se a maior das plantas, uma árvore capaz de abrigar as aves do céu nos seus ramos.
Sem dúvida para aqueles que o escutam, Jesus fala da fecundidade e potência deste Reino a acontecer. Para aqueles que esperavam uma manifestação potente e grandiosa do Reino Messiânico, a acção de Jesus com aqueles pescadores que o acompanhavam seria muito fraca… Para aqueles que esperavam a intervenção decisiva de Deus na história, os problemas e dificuldades do quotidiano faziam duvidar da sua Vontade… Não nos acontece hoje isso?
O Reino de Deus acontece na Desproporção, na Superabundância, na Fecundidade sem medida! O Reino ultrapassa em muito todas as sementes, todos os esforços e sinais do quotidiano, tudo o que porventura nos possamos aplicar! Na lógica do Reino, que é a lógica do Amor, da Verdade e da Justiça, os frutos e os resultados surpreendem-nos sempre, na medida de 100 vezes mais! Porque todas as sementes do Reino lançadas, pequenas, simples, frágeis e invisíveis, possuem em si a força a brotar…
Não será um convite de Jesus à confiança e respeito a todos os que se dedicam à construção do Reino, seja no anúncio do Evangelho, seja na construção do Bem, da Verdade e da Justiça? “As sementes que tendes e vedes, parecem-vos pequenas? Não vos esqueçais que não são vossas, pertencem a Deus. Confiai no seu poder e fecundidade, e dedicai-vos apenas a semeá-las…”

Além disso, temos outra certeza: não que o Reino aconteça só quando a árvore surge na sua força, e que agora tenhamos de esperar com a semente… A Semente, o Grão, “o mais pequeno de todos”, esse é o Reino, também é linguagem do Reino! Ou seja: faz parte do Reino de Deus a pequenez, a simplicidade, a fragilidade, tal como faz parte a grandeza da Árvore ou Planta. Não que o Reino seja primeiro uma semente e depois uma planta: é semente e planta, acontece nessa dinâmica de simplicidade e fecundidade, de pequenez e grandeza, de fragilidade e firmeza… É a linguagem do Amor.
Ao mesmo tempo que nele podemos firmar e construir a nossa vida como a casa sobre a rocha, também nele vivemos quando investimos e confiamos no simples, no quotidiano, no frágil. Tenho a certeza de que Jesus estaria a dizer: “Não espereis que chegou o Reino quando virdes apenas a sua grandeza, a sua segurança, os seus frutos… o Reino está aí, entre vós e por vós, nas sementes lançadas à terra, nos sinais e gestos pequenos, frágeis, invisíveis… Procurai também aí o Reino, tende a certeza de que é aí que está presente a Graça e a Vontade do Pai… Confiai e alegrai-vos nessa presença…”
Então, o grande convite é afinal o de ver e confiar no Reino a acontecer, seja no grão pequeno a ser semeado, seja na grande árvore na qual podemos descansar…

Por fim, a linguagem do Reino tem de aplicar-se à Igreja, que deve ser, na história da Humanidade, sinal e construtora desse Reino. O Reino ultrapassa em muito o âmbito da Igreja, chega a todas as dimensões da Humanização, e por isso a sua emergência e fecundidade não podem ser medidas pelo “tamanho” da Igreja: muitas vezes os sucessos e fracassos desta não são automaticamente os sucessos e fracassos do Reino…
Mas a Igreja tem de ser sinal deste Reino que acontece no mais pequeno dos grãos – ou seja, talvez um pouco de simplicidade e essencialidade não lhe fizesse mal – e ser sinal da árvore que acolhe as aves nos seus ramos para descansarem, e não tanto expulsá-los ou sobrecarregá-los como tantas vezes aconteceu. «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» (Mt 4, 28-30)


Um grande abraço

1 comentário:

Anónimo disse...

intiresno muito, obrigado