terça-feira, 1 de abril de 2008

apresentando uma pessoa... (II)

Outra das coisas que este meu amigo me vai partilhando é a da seriedade face à vida. Lembro-me que foi das coisas mais fortes que já descobri: a nossa vida é um assunto sério, costuma dizer-me. É a nossa única oportunidade, e é o dom maior que podemos receber. Ninguém nos perguntou se queríamos nascer: chamaram-nos à vida, na fecundidade do Amor dos nossos pais e de todas as pessoas que nos amam. Chamaram-nos a viver porque descobriram que viver vale a pena, é um privilégio. Mas chamaram-nos à vida para nos entregar essa vida: está nas nossas próprias mãos viver e ser feliz, realizar-se e amar.

Vivemos em construção: somos construtores de nós próprios, estamos a criar a nossa própria vida e a nossa própria história. E crescemos como pessoas, não apenas tratando do nosso corpo nem acumulando conhecimentos intelectuais: crescemos como pessoas na medida em que optamos, decidimos e programamos a nossa vida no sentido do Amor, da Comunhão e da Verdade. A vida não é para ser levada a passear, é para se construir, e estamos na hora – mãos à obra!

Para isso temos um dom muito importante, ao qual costumamos estar muito distraídos: o tempo… o ser humano é, em toda a Criação, o único que tem consciência do tempo a passar, porque é o único que tem consciência da morte… somos seres finitos, vivemos a caminhar para um fim! É a consciência da morte que nos faz perguntar o sentido da nossa vida, e nos impele a sabermos aproveitar o tempo para construir o que não morre. Esse meu amigo, com quem conversamos, às vezes diz-me que há coisas que são eternas, não podem morrer. Ele não sabe como será depois da morte, mas intui dentro de si que há coisas que não podem morrer, e é isso que estamos chamados a construir, a viver…

Quando ele me falou desta seriedade em viver, perguntei-lhe eu o que seria mais importante para ele… o que é mais importante na nossa vida?
Ele contou-me uma história… Diz que é a história mais importante de todo o Universo. No princípio, antes de haver estrelas, planetas, antes de existir todo o Espaço Cósmico, já existia o Amor… o Amor é quem está na origem de toda a Criação, é na fecundidade do Amor que tudo brota… no princípio, já existia o Amor…

E o Amor não é nada abstracto, nem aéreo, costuma-me dizer. Diz que não gosta muito do Amor romântico das novelas, aquele cor-de-rosa perfumado… Diz-me que o Amor é mais do que isso… o Amor é uma história de entrega e doação, acolhimento e gratidão, uma história de Aliança entre Pessoas… o Amor é o compromisso total com a felicidade do outro, mais importante que a minha própria felicidade… o Amor é coisa de Relações…

No princípio, já havia o Amor: uma Família de Três Pessoas, em plena e perfeita Comunhão de Amor: o Amor a que chamamos de Pai, Amor de Graça, de entrega, de doação; o Amor a que chamamos de Filho, Amor de Gratidão, de acolhimento; o Amor a que chamamos de Espírito Santo, Amor de Comunhão, animador das relações… No princípio já havia o Amor, e é o Amor que está na origem de todas as coisas; o Amor é como que a espinha dorsal que percorre e sustenta toda a história da Humanidade…

O ser humano, cada um de nós, é chamado a viver e construir este Amor. Somos os únicos seres na Criação que sabemos falar a linguagem do Amor, e assim podemos comunicar e comungar com Deus. Mas o Amor nunca cai do Céu… o Amor acontece nas nossas opções, nas nossas decisões, nas nossas escolhas. Somos fruto do Amor que recebemos, não sabemos amar se antes não fomos amados, é uma lei fundamental da nossa vida. É com os ritmos do amor que recebemos que vamos saber amar os outros. Mas é verdade também que ninguém é julgado pelo amor que recebeu, muito ou pouco, mas sim o que fez render desse amor…

É o Amor que nos estrutura, que nos torna pessoas maduras… Andam por aí muitas ideias pobres sobre o que é o amor, ideias muito românticas, ou ideias light, “ a ver se dá”, ou do tipo “usa-se e deita-se fora”… o Amor é mais do que isso, o Amor é sempre uma história de Aliança, uma história de total compromisso com o outro, “na saúde e na doença”, sim, porque também faz parte do amor viver fases de crise, de mudança, onde a paixão parece coisa de outros tempos… E nem por isso a Aliança se corta, porque o Amor também precisa de se construir, não cai do céu…
um grande abraço

1 comentário:

Anónimo disse...

Hehehe!Fizeste-me rir quando falas do amor cor de rosa perfumado.
Sim,esse não ixiste,é só ilusão e passa.
Estou a gostar imenso do que escreves,um abraço Mila