terça-feira, 14 de outubro de 2008

À procura da história de Deus connosco...

Viva! Eu e o meu companheiro Gustavo pudemos participar hoje num bom encontro de catequistas em S.Ovidio, Gaia. Partilhamos o texto que nos acompanhou. Opto por sublinhar a negrito apenas os verbos das citações bíblicas...


A descoberta do Rosto de Deus, do jeito de Deus se relacionar connosco, é o tema de toda a História bíblica. A Bíblia é um conjunto de textos, de testemunhos de um Povo (Israel primeiro, os discípulos de Jesus depois) que reconhece, à luz da Fé, a acção de Deus na sua história.

A experiencia de base, ou fundamental, é o acontecimento do Êxodo: Israel começa como Povo no Egipto na sua libertação/saída (passagem, que em hebraico se diz Páscoa) para a Terra Prometida, da escravidão para a liberdade. Por uma experiencia religiosa, Israel reconhece que só pela acção de Deus pode acontecer essa Páscoa. No texto da vocação de Moisés temos Deus a dizer:

«Eu vi, eu vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel». (Ex 3, 7-8).

É um Deus que conhece bem o seu Povo, bem demais para ficar indiferente – um Deus muito diferente das divindades mudas e surdas, num qualquer céu infinitamente distante. É um Deus que toma partido, não por Israel contra o Egipto, mas pelas vitimas da opressão… E sobretudo, é um Deus que entra na nossa história, por Amor, entra sem ser convidado, surge como Proposta de Aliança e Poder amoroso de Libertação. «Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.» (Apc 3,20)
Em outro texto, do profeta Oseias, encontramos estas palavras na boca de Deus:

«Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Mas, quanto mais os chamei, mais eles se afastaram. Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer.» (Os 11, 1-4).

O Deus da Graça! Graça, eis o melhor nome para dizer a Deus na Bíblia! A melhor imagem da Graça é a da mãe a debruçar-se sobre a sua criança de colo ou, no dizer de Jesus, como «o Pai do Céu, que faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos» (Mt 5, 45). É o Deus da Graça que ama porque é Amor, que toma a iniciativa sem esperar pelas nossas ofertas e sacrificios, o Deus da gratuidade que vê, ouve, conhece, desce, cuida, segura, inclina-se, por puro dom! E quantas vezes tornamos a Bíblia num manual de moral que nos diz o que havemos de fazer… Quando a lógica é a contrária, é a maneira de Deus ser, agir, fazer que está em causa e importa procurar!

É o Deus da Graça, que conhece, ama, cuida, liberta, desce… É também o Deus da Aliança, a outra palavra tão importante que o diz. Deus entra na história do Povo para fazer Aliança, para escrever uma história partilhada, uma história com sentido, um Projecto de Salvação. Um Deus que se compromete absolutamente com o seu Povo, connosco, com cada um de nós. A história de Israel, a história bíblica é marcada, a par e passo, por esta Aliança, por um Caminho rumo a uma Promessa que Deus faz de Salvação.

E hoje, por puro dom, temos a possibilidade de ir escutando um Noticia, uma Boa-Noticia, um Evangelho que nos diz que esta história de Deus com a Humanidade através de Israel já chegou à Salvação prometida, ao inaugurar da plena presença de Deus entre nós: «Cumpriu-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo» (Mc 1, 15), logo confirmada por outra noticia que nos é testemunhada: «A este Jesus, Deus o Ressuscitou, e disto nós somos testemunhas» (Act 2, 32). Sim, a este Jesus que anunciou a inauguração de um tal Reino e por ele deu a sua vida, este Jesus que «Passou fazendo o bem e curando a todos os que viviam dominados pelo mal, porque Deus estava com ele» (Act 10, 38).

É esta História, este Projecto que Deus escreve connosco, por pura Graça, pura gratuidade, que hoje somos chamados a escutar, descobrir e testemunhar. Uma história de Amor que Deus escreve connosco, hoje. Na Primeira Carta de João descobrimos esta história a ser narrada:

«Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus,
e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.
Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é Amor.
E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós:
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida.
É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus,
mas foi Ele mesmo que nos amou
e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.»
(1Jo 4, 7-10)

Uma História de Amor, de um Deus que é Amor. Um Amor que percorre toda a história da Humanidade como a sua espinha dorsal, presente no nosso amor que nos faz nascer como pessoas, nascer de Deus. Um Amor que, diante do nosso pecado, se torna Perdão libertador que vence, não pela condenação mas pelo Amor, todo o pecado, «porque o amor cobre a multidão dos pecados» (1Pe 4, 8) e «tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.» (Jo 3, 16-17).

Por isso o Evangelho é Boa-Nova, uma boa novidade: porque é uma Noticia de Amor, de um Amor Eterno e Familiar que vem ao nosso encontro num Rosto, no Rosto de Alguém que é vivo e presente connosco, Jesus, o Ressuscitado. É este Amor, Amor de um Deus que é Amor, Graça, Aliança, que somos chamados a descobrir, acolher, escutar, mais que a conquistar ou merecer através das nossas tantas morais que já pouco dizem ao mundo de hoje…
Para aprofundar, proponho que leiam o texto do p. Antonio Couto chamado Amados por Deus
Um grande abraço!

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado, pelo teu jeito apaixonado de anunciar o Evangelho.
Um abraço
Calmeiro Matias

Anónimo disse...

Obrigado, pelo teu jeito apaixonado de anunciar o Evangelho.
Um abraço
Calmeiro Matias