sábado, 8 de novembro de 2008

Crisma 3. Jesus como o Ungido

Viva! Amanhã, 9 de Novembro, os Missionários Redentoristas celebram 276 anos de nascimento! Convido-vos a visitar o blog www.redentorista.blogspot.com Lá poderão conhecer melhor a nossa missão.
O Novo Testamento nasce e centra-se numa proclamação: Jesus de Nazaré é o Ungido (que em grego, a língua em que o Novo Testamento foi escrito, se diz Cristo), o Filho de Deus, portador do Espírito Santo (Mt 1, 1; Mc 1, 1). É nesta certeza que os discípulos seguem aquele carpinteiro de Nazaré (Mt 16, 16). Todas as Suas acções e obras, todos os milagres que realizava (João apresenta-os como sinais), tudo apontava para o Seu messianismo.

Todos os evangelistas apresentam o momento do baptismo de Jesus no rio Jordão, por João Baptista, proclamando-o como o Messias, ungido com o Espírito Santo (Mt 3, 14-15; Mc 1, 10-11; Lc 3, 21-22; Jo 1, 32-34). Lucas apresenta Jesus a iniciar a Sua vida pública assumindo-se como o Ungido com o Espírito do Senhor anunciado por Isaías (Lc 4, 16-21). Paulo coloca-o como o inaugurador da “plenitude dos tempos” (Gal 4, 4). João apresenta-o como o construtor do Templo que o Senhor pretendia, ultrapassando o de Salomão (Jo 2, 19-22).

Mas, se quanto ao messianismo de Jesus estamos de acordo, já quanto ao tipo de messianismo é que temos algumas diferenças. De facto, conhecemos o tipo de Messias que o povo judeu (e os discípulos de Jesus), esperavam: o descendente de David, aquele que reunificaria, pelo poder político-militar, as tribos de Israel, expulsando os invasores (no tempo eram os romanos). Viria para aplicar a justiça de Yahvé, castigando os pecadores e libertando os oprimidos. É Ele quem virá libertar Israel, nas palavras dos discípulos de Emaús (Lc 24, 21).

Jesus inaugura e apresenta, de facto, o Reino de Deus (Lc 17, 20-21), mas apresenta-se de modo totalmente inesperado para os judeus. Não vem cumprir a ira de Yahvé, mas traz a Sua misericórdia (cf. Mt 9, 13). Vem para destruir o pecado, mas convertendo o pecador em vez de o aniquilar (o episódio do perdão da mulher adúltera é disso claro – Jo 8, 3-11). Vem para levar a lei ao Seu pleno cumprimento (Mt 5, 17), mas no seu espírito e não na sua letra; a esta, relativiza-a: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. O Filho do Homem até do sábado é Senhor” (Mc 2, 27-28).
O sábado era o dia sagrado para os judeus, e Jesus seria perseguido por efectuar milagres a este dia (Mt 12, 9-14; Jo 5, 1-18). Chama a atenção para o modo como se devem praticar os três pilares da devoção judaica: a oração, o jejum e a esmola (Mt 6, 1-18). Aliás, tem a ousadia de tratar a Deus por Pai, e ensina os discípulos a fazê-lo! O povo judeu, no seu todo, considerava-se como filho de Deus, mas ninguém tinha o direito, isoladamente, de se considerar Seu filho!

Seria esperado como o mais puro dos puros, mas convive com os mais impuros para a lei: cobradores de impostos, prostitutas, leprosos, crianças, todos os que não cumpriam os rituais de pureza da lei. Ao contactar com eles, e até ao curá-los das suas doenças, Jesus tornava-se ele próprio impuro aos olhos da lei.

Jesus é o Messias, mas um Messias completamente inesperado. Os próprios discípulos tiveram dificuldade em o aceitar, e quando foi preso e crucificado, dispersaram-se. (Mt 26, 56). Será após a experiência pascal que se reunirão de novo: “Saiba toda a Casa (povo) de Israel com absoluta certeza que Deus estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado” (Act 2, 36).

É evidente que um Messias tão inesperado não poderia ser aceite pelos poderosos de seu tempo, as autoridades religiosas. Mesmo assim não abdicou de anunciar a Boa Nova (que em grego se diz: Evangelho) do Deus-Amor, levado a Sua fidelidade profética até à morte. Seria assassinado, “mas Deus ressuscitou-O, libertando-O dos grilhões da morte, pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte” (Act 2, 24). E o grande dom que Cristo ressuscitado daria à Humanidade seria o Espírito Santo.

O Espírito conduz ao perdão dos pecados e impele ao testemunho: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos”; “Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo” (Jo 20, 22-23; Act 1, 8).

Além disso, o Espírito Santo é o princípio de comunhão e filiação divina: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do Seu Filho, que clama Abbá! – Pai! Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus” (Gal 4, 6-7). O Espírito Santo é o Amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). É no Filho de Deus que está a Vida Eterna (1Jo 5, 11). É graças ao Espírito Santo que permanecemos em Deus (1Jo 3, 24). Pelo Espírito Santo, princípio de comunhão na Família Divina, somos assumidos nesta: filhos em relação a Deus-Pai, irmãos em relação a Deus-Filho.

Além de divinizador, o Espírito Santo é revelador: “Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito (advogado, aquele que defende), o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 25-26). É da escuta da Palavra que se dá o Baptismo (palavra grega que significa mergulho) no Espírito: “Pedro estava ainda a falar, quando o Espírito Santo desceu sobre quantos ouviam a palavra” (Act 10, 44). O baptismo na água é sinal desse baptismo no Espírito: “Poderá alguém recusar a água do baptismo aos que receberam o Espírito Santo, como nós? E ordenou (Pedro) que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo” (Act 10, 47-48). É Jesus quem baptiza no Espírito Santo: “Eu (João Baptista) baptizei-vos em água, mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito” (Mc 1, 8).

O grande dom messiânico de Jesus é o dom do Espírito. O mesmo Espírito que ungiu Jesus de Nazaré é o que nos unge: “Aquele que nos confirma juntamente convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, Ele que nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito” (2Cor 1, 21-22). Pelo Espírito Santo cada um de nós é, no seu íntimo, morada de Deus: “Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3, 16).

É essa a grande Boa Nova que temos de anunciar: somos filhos de Deus. Desde sempre o Espírito de Deus actuou no nosso íntimo impelindo-nos a fazer o bem e a construirmo-nos à imagem de Deus, no Amor. Em Cristo, o Espírito Santo é princípio de divinização: Deus assume-nos e plenifica-nos na Sua própria Família, na medida em que nos construímos como pessoas, no amor. “Nós conhecemos o Amor que Deus nos tem, pois cremos nele. Deus é Amor, e quem permanece no Amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4, 16).
um grande abraço!

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