segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Abba (III): o Pai de Jesus, que o Ressuscitou dos mortos

Que experiencia terão feito aqueles discípulos entre o seu abandono de Jesus, deixando-o às mãos das autoridades judaicas, e a sua saída para as ruas anunciando a Ressurreição do seu Mestre, ou seja, que Deus o reconhecia e constituía como o Messias que Israel esperava, apesar de as autoridades judaicas não o terem aceite? A prova mais forte que temos, historicamente, da Ressurreição de Jesus é esta Passagem dos discípulos, do desencanto para o testemunho.

Um caminho que certamente aqueles discípulos terão feito foi o re-lerem toda a vida e missão de Jesus: acreditavam que era um Homem que vinha da parte de Deus, porquê a sua rejeição por parte das autoridades, sacerdotes e doutores da lei? E certamente que a relação de intimidade e entrega que Jesus viveu com Deus, tão bem marcada pela palavra Abbá, terá sido uma porta de abertura para o reconhecimento pascal: está vivo! A morte não o derrotou! É ele o esperado de Israel: as autoridades não o reconheceram, mas Deus o constituiu como o Ungido, o Rei de Israel: não na história, mas na sua Ressurreição! Provou durante a sua vida ser um homem Ungido e Enviado por Deus para inaugurar os tempos da Salvação: e agora Deus o confirmou, assumindo-o na sua própria Vida. É este o esquema do discurso inaugural de Pedro nos Actos dos Apóstolos:

«Homens de Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós, com milagres, prodígios e sinais que Deus realizou no meio de vós por seu intermédio, como vós próprios sabeis, este, depois de entregue, conforme o desígnio imutável e a previsão de Deus, vós o matastes, cravando-o na cruz pela mão de gente perversa. Mas Deus ressuscitou-o, libertando-o dos grilhões da morte, pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte. Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas. Tendo sido elevado pelo poder de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou-o como vedes e ouvis. Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado» (Act 2,22-36).

A Experiencia Pascal é uma experiencia de Revelação para os discípulos, na qual lhes é tirado o véu sobre a verdadeira identidade e missão de Jesus: ele é o Gerado, o Ungido pelo Espírito de Deus, o Eleito como Filho de Deus. Aqui utilizam as profecias do rei de Israel, o sucessor de David (Esperança Messiânica), que é eleito por Deus como filho, mas com um alcance infinitamente novo: a Ressurreição. Assumido por Deus na sua própria Vida Divina, constituído Senhor e Salvador da História, o Primogénito da Nova Humidade.

Toda a vida de Jesus foi esta missão filial: por isso os Evangelhos realçam o Baptismo de Jesus no Jordão como inicio desta missão: «Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado» (Mc 1,10-11). O Céu Aberto, o Espírito e a Voz de Deus são elementos bíblicos para falar dos tempos da Salvação.

A partir de agora, o Nome de Deus passará a ser «o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo» (1Ped 1,3), «aquele que ressuscitou dos mortos Jesus» (Rom 8,11). Passa a ser este o Nome de Deus, passa a ser esta a Acção que o define, tal como no Antigo Testamento havia sido «o Deus que nos libertou do Egipto» (cf. Ex 3,7). O Filho torna-se o Rosto e o Nome do Pai, a Ressurreição implica e significa a partilha total da Vida e da Glória de Deus, no poder do Espírito Santo.

A partir daqui, as comunidades vão aprofundando e celebrando o Mistério que se revela em Jesus na sua Ressurreição, até chegar à proclamação de João: em Jesus revela-se um Mistério Eterno de Comunhão, o Pai e o Filho que se revelam são Eternos, num só Espírito Santo. O Filho é a Palavra que diz o Rosto de Deus: é uma Comunhão Pessoal. «A Graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do pai, ele o revelou» (Jo 1,17-18).
um grande abraço!

2 comentários:

Anawîm disse...

Que bom é saborear todo este Mistério, celebrar este Rosto ressuscitado... que é o selo do Abba: a resposta de um Pai que ergue, que levanta o Seu Filho depois da comunhão perfeita com Ele na cruz...

Será mesmo possível viver de novo essa mesma exultação que sentiram os discípulos... essa "passagem" do desencanto para o saborear já aqui e agora um pouco essa explosão de amor vivente ressuscitado de Jesus?... Será?...

Um abraço... agradeço-te o que me deixas a pensar, com esta partilha

Anónimo disse...

Parabéns, Rui Pedro!
Dominas cada vez melhor as questões relacionadas com Cristo.
Já consegues responder de modo muito profundo à pergunta de Jesus: "E vós quem dizeis que eu sou?"
Isto significa que já és um Apóstolo ao jeitode Jesus.
Um abraço
Calmeiro Matias