quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Abbá (IV): a Vida Filial é um Mistério Pascal!

O mistério de Jesus de Nazaré, o Ressuscitado e Ungido por Deus, é cantado e celebrado nas comunidades como um mistério de Salvação: revelou-se de um modo pleno o Reino anunciado por Jesus, chegaram os tempos prometidos de Salvação. Deus enviou o seu Ungido, o seu Eleito, constitui-o no seio de Israel e por Ele, na sua Ressurreição, derrama o seu Espírito Santo sobre toda a Humanidade. É esta experiencia nuclear que está por debaixo dos textos de Rom 8,14-17 e Gal 4,4-7. Toda a Humanidade é afectada, unida à Páscoa de Jesus, que se torna a Páscoa de toda a Humanidade (1Cor 5,7), o Primogénito de muitos irmãos (Rom 8,29), criando n’Ele uma só e Nova Humanidade, fazendo a Paz (Ef 2,15).

A partir deste momento, a melhor linguagem que exprime a vida dos discípulos assumida na Páscoa de Jesus é a linguagem baptismal. O Baptismo é sinal, ou sacramento, de uma vida pascal, construída e gerada no Espírito Santo. O Baptismo é sinal de uma vida de morte ao Homem Velho, marcado pelo egoísmo e pecado, e de renascimento no Homem Novo (Ef 4,23-24; Jo 3,5). O Baptismo é a celebração e proclamação da vida nova, da nova relação a que somos abraçados em Cristo: «Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos!» (1Jo 3,1). O sinal dos discípulos, dos filhos, para Paulo, é a Liberdade: «A Criação está na esperança de alcançar a gloriosa liberdade dos filhos de Deus» (Rom 8,21).

Esta dinâmica de passagem, ou Páscoa, é uma dinâmica de Humanização, de amor aos irmãos: «Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Foi com isto que ficámos a conhecer o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos» (1Jo 3,14.16). Neste Amor, nesta Nova Humanidade cujo centro é o Ressuscitado, já não existem as distinções típicas do Homem Velho: «É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus, mediante a fé; pois todos os que fostes baptizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo mediante a fé. Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus» (Gal 3,26-28).

Então agora, vão surgir os Evangelhos, que são um testemunho e um caminho de descoberta da vida e anúncio de Jesus à luz da sua Páscoa e da Vida Nova que n’Ele se inaugura. É como discípulos e catecúmenos que mergulhamos neste mistério do Reino. E é à luz do anúncio de Jesus, o Cristo, o Ressuscitado, é à luz deste mistério do Reino que saboreamos estas palavras do Pai-Nosso, para nos tornarmos nos discípulos que esta Oração proclama.
E pronto, com este post terminamos este percurso
ao longo da Biblia sobre a Paternidade de Deus...
Espero na próxima semana partilhar um pouco
à volta do Pai-Nosso como oração e experiencia filial... vamos a ver
entretanto um grande abraço a todos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Valeu a pena este esforço!
O rosto de Deus ficou bem desenhado nesta série de textos.
Obrigado Rui Pedro!
Calmeiro Matias