sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mistério Pascal...

… Acerca do seu Filho,
nascido da descendência de David segundo a carne ...



... Constituído Filho de Deus em Poder,
segundo o Espírito Santificador
pela Ressurreição de entre os mortos …
(Romanos 1,3)

Gosto de o ver como num filme... É como aqueles filmes que começam pelo fim... Ou que, no fim, começa de novo uma nova aventura...

Imagino-me como Discípulo, para estar com Ele (Mc 3,14). Coloco-me na pele de um discípulo, e caminho com o Mestre... Escuto o seu anúncio de novidade, de Boa-Noticia de uma Nova Presença de Deus, renovada, junto do seu Povo, vejo com os meus olhos o movimento a acontecer, a libertação a dar-se, as aproximações de pecadores e excluidos, descubro-me movido por uma Autoridade que vai colocando a minha vida em função deste Movimento...

E agora entendo o que diz João no prólogo, não do Evangelho, mas da sua Primeira Carta:
O que existia desde o princípio,
o que ouvimos,
o que vimos com os nossos olhos,
o que contemplámos
e as nossas mãos tocaram
relativamente ao Verbo da Vida...
(1Jo 1,1)

É esta experiencia marcante, histórica porque marcada na minha e na nossa história como o Círio é marcado pelo estilete quente... É esta experiencia que está no princípio de tudo, no novo começo, no começo pleno:

Deus ressuscitou-o, libertando-o dos grilhões da morte,
pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte
(Act 2,24)

E é o começo de tudo... A partir daqui, os discípulos vão ler toda a História de Deus com a Humanidade, uma verdadeira História de Ternura, e vão reconhecer as consequências tremendas, totais, plenas, do que aqui se inaugura: Ressuscitou.

Assim também nós, quando éramos crianças, estávamos sob o domínio dos elementos do mundo, a eles sujeitos como escravos, diz Paulo na carta aos Gálatas referindo-se a toda a história da Humanidade; para quê? Para realçar o que Aconteceu, um Acontecimento...

Mas, quando chegou a Plenitude dos Tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos... (Gal 4,3-5)

Com Jesus, o Ressuscitado, acontece um movimento novo, como que um salto de qualidade, uma passagem, uma Páscoa da Humanidade, da vida da Humanidade... Um movimento novo, por Graça... Não por conquista nossa, por mérito, por boas obras: Quando ainda éramos pecadores, refere Paulo, não quando tinhamos alcançado a perfeição ou a pureza, é que Cristo morreu por nós. É assim que Deus demonstra o seu Amor para connosco. (Rom 5,8)

É assim... como o repete João: E o Amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. E de novo a mesma ideia: É nisto que está o Amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho. (1Jo 4,9-10)

O envio do Filho, no Novo Testamento, não tem qualquer noção de um ser divino que chega à terra para fazer coisas pelos homens em nome das divindades, como era normal na mitologia grega. O Evangelho de João, à primeira vista, parece sugerir esta leitura. Mas o Filho, no Novo Testamento, parte sempre da Experiencia Pascal do encontro com Jesus, o Ressuscitado por Deus, Homem Ungido numa relação Filial, cuja vida e história são lidas à luz da Ressurreição, segundo uma certeza muito importante: o Ressuscitado é o mesmo Homem que viveu connosco. Como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele. (Act 10,38)

A condição de Filhos... O cumprimento das Profecias e das Escrituras, ou seja, da História de Deus com a Humanidade e particularmente com Israel... Uma História marcada, na sua identidade, pela Promessa, pela Esperança... Deus está a preparar um Horizonte de Salvação e Plenitude para o seu Povo, a sua Humanidade... a Terra Prometida. O livro do Apocalipse, olhando para o Ressuscitado, já vê esta Salvação como uma certeza já inaugurada, numa bela linguagem:

Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles;eles serão o seu povoe o próprio Deus estará com elese será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte,nem luto, nem pranto, nem dor.Porque as primeiras coisas passaram. O que estava sentado no trono afirmou: Eu renovo todas as coisas. (Apc 21,3-5)

O cumprimento das Profecias... O Perdão dos Pecados, ou a Redenção... Num belo poema, na Carta aos Efésios, afirma Paulo: É em Cristo, pelo seu sangue,que temos a redenção,o perdão dos pecados,em virtude da riqueza da sua graça, que Ele abundantemente derramou sobre nós,com toda a sabedoria e inteligência. (Ef 1,7-8) Olhando, contemplando o Ressuscitado no Mistério de Salvação que Deus, ali, n'Ele, preparou e continua a preparar para nós, vemos um Mistério de Salvação que supera, que irrompe, vence, transforma e assume, numa história, todas as nossas experiencias de pecado e morte... Vemos uma Vida Nova a emergir, a par e passo, suavemente como toda a Graça, no seio da nossa História... E já sabemos que o futuro lhe pertence: a Humanidade é sua... Como o bem sabe o próprio, Jesus, quando o diz, ontem e hoje, de novo, com uma ternura e certeza tremendas: Filho, os teus pecados estão perdoados. (Mc 2,5)

O Perdão dos Pecados... A Ressurreição dos Mortos... É imediato. Não cabem duvidas para Paulo e os primeiros cristãos, no grande discurso do capitulo 15 da Primeira Carta aos Corintios: Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. (1Cor 15,18-21) A atitude do crente, a atitude fundamental segundo Paulo, é caminhar na sua vida nesta esperança unindo-se ao Ressuscitado na sua Páscoa: Se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua Ressurreição. Assim vós também: considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. (Rom 6,5.11). Por isso Ele torna-se a Ressurreição e a Vida (Jo 11,25)...

A Ressurreição dos Mortos... Mas de facto, a maior experiencia, de fundo, que diz tudo isto, é a experiencia de Filhos... Tal como o Novo Testamento tem muitos títulos para falar do Mistério que habita a Jesus, na sua identidade pessoal (o Cristo, o Filho de Deus, o Salvador, etc), também tem títulos para falar do Homem, do ser Humano: Nova Criatura (2Cor 5,17), de Pé no Centro (Mc 3,3), Homem Novo (Ef 4,24), etc... Mas o maior de todos é sem dúvida o de Filhos: Filhos porque eleitos, abraçados por uma Vida Nova que nos é dada e preparada pelo Ressuscitado que é o Filho! Filhos porque abraçados num Espírito Filial que ungiu e conduziu ao Filho, Jesus. Filhos porque abraçados por uma Salvação, uma Plenitude preparada pelo Pai, o Abbá...

E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! - Pai!"...
Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por Graça de Deus...


Bonito. Belo. Grande. Chama-se

Mistério Pascal...


Bem, e já chega. Este seria um texto de introdução, mas entusiasmei-me. A minha intenção, se tudo correr bem, é durante esta semana, uma vez que estou de férias, escrever mais frequentemente por aqui, e sempre à volta deste Mistério... Pode ser, caminhamos juntos?
Um grande abraço e bom fim-de-semana!

2 comentários:

Sol da manhã disse...

Pode ser!
Claro que sim!!!

Vamos lá então, caminhar juntos na Alegria da Descoberta do Evangelho onde nos descobrimos parte integrante desta História de Salvação...onde nasce uma Esperança consequente, uma Alegria concreta, e uma Paz desconcertante...

A caminho...

Um abraço grande!

Boa Missão :)!

Calmeiro Matias disse...

Obrigado, Rui Pedro, porque com este texto nos conduziste para a sabedoria que vem do alto.
um abraço amigo
Calmeiro Matias