quarta-feira, 17 de junho de 2009

Catequese (I)

Viva! Nos próximos dias vou partilhar aqui uma série de textos que encontrei, de um autor, sobre a catequese e a missão da evangelização, com alguns conselhos práticos. Mas desta vez, só vou partilhar quem é o autor e a fonte no final, quando todos os textos estiverem publicados; acho que vai ser uma surpresa interessante! Um grande abraço!
«Pediste-me, irmão, que te escrevesse algo que te pudesse ser útil acerca da catequese. Dizias-me, com efeito, que costumam apresentar-te pessoas que vão receber a sua primeira formação na fé cristã, porque crêem que tens dotes abundantes de catequista, pelos teus conhecimentos da Fé e pela persuasão das tuas palavras. Mas tu confessas-me que quase sempre te encontras em dificuldades quando tens de expor adequadamente aquelas verdades nas quais devemos acreditar para sermos cristãos. Queixas-te que muitas vezes, durante um discurso longo e desajeitado, tu mesmo te sentes insatisfeito e aborrecido, e ainda mais as pessoas que instruis com as tuas palavras e que te escutam.

No que toca à tua experiencia, não queria que te preocupasses de que com frequência o teu discurso te pareça pobre e aborrecido, pois pode muito bem suceder que, enquanto que para ti te parece indigno dos ouvintes o que estás a dizer, porque desejavas que escutassem algo melhor, a opinião daqueles que estás a instruir seja muito diferente.

Também a mim quase sempre não me agradam os meus discursos. Com efeito, antes de começar a expressar-me com palavras, estou a desejar um discurso melhor, em que frequentemente estou a gozar no meu interior. Desejo que aquele que me escuta entenda tudo tal como eu o entendo, e dou-me conta de que não me expresso do modo mais apto para consegui-lo.

Assim, desejando com ânsia na maioria das vezes o proveito dos nossos ouvintes, queremos falar tal como pensamos, quando na realidade, e por causa do nosso esforço, não podemos falar. E como não o conseguimos, atormentamo-nos e vemo-nos invadidos pelo tédio, como se estivéssemos a realizar uma obra inútil; e por causa do tédio o nosso discurso vai-se tornando mais débil e menos vivo do que era no momento inicial do nosso desânimo.

Mas a atenção dos que desejam escutar convence-me com frequência de que as minhas palavras não são tão frias como me parece a mim, e através da sua satisfação descubro que estão a retirar algum proveito do meu discurso; assim, pois, coloco grande interesse em desempenhar com atenção este serviço no qual vejo que os meus ouvintes recebem com agrado o que eu exponho.

Da mesma maneira, como te encomendam com muita frequência os que deverão ser instruídos na fé, também tu deves pensar que as tuas palavras não desagradam aos demais como desagradam a ti, nem deves considerar-te inútil quando não chegas a explicar as tuas próprias ideias como desejas, pois às vezes nem sequer as intuis como desejarias. Pois, com efeito, quem é que na história não vê senão através de enigmas e como num espelho?

E, sem dúvida alguma, escutam-nos com mais agrado quando também nós temos prazer no nosso próprio trabalho, porque o fio do nosso discurso vibra com a nossa própria alegria e flui com mais facilidade e persuasão. Portanto, não é difícil estabelecer o que devemos expor sobre a fé, desde onde e até onde deve ser tratada; nem como devemos variar a exposição para que umas vezes seja mais breve e outras mais extensa, tal que seja sempre plena e perfeita; ou quando devemos servir-nos de uma fórmula breve e quando de outra mais extensa. Em todo o caso, o que sempre devemos cuidar é ver os meios que devemos empregar para que o catequista o faça sempre com alegria, pois quanto mais alegre está mais resultará.

E a razão desta recomendação é bem clara: se Deus ama àquele que partilha os bens materiais, com quanta mais razão não amará àquele que distribui os espirituais?»
(...)

2 comentários:

Anawîm disse...

Temos mesmo TANTO ainda que aprender com quem sabe mesmo do assunto... e ainda assim estamos TÃO longe!...
Sente-se mesmo por fora, de tantas maneiras, quem já "meteu as mãos na massa" e viu aí os caminhos de boas notícias e fracassos e tanto fruto que não se vê na hora da sementeira!
Que problema chato é este que temos de ter gente a fazer guiões disto e daquilo, lá do alto das suas sabedorias, sem nunca ter estado verdadeiramente olhos nos olhos com uma criança, adolescente ou jovem!...

Rui Pedro, desculpa o desabafo... mas às vezes chateia-me um bocado isto de andamos demasiado à volta de nós próprios.
É por isso tudo que te agradeço esta carta que aqui partilhas... tanto disto precisamos todos de viver, encarnar, para ter o que dar!!!... É um saber vivido que é sempre Novo em qualquer tempo, embora às vezes seja escrita com tantos séculos.

Um abraço grande Rui

figlo disse...

Que bonito que isto é, Rui Pedro! Como é que pode ser claro, dentro de nós o mistério que envolve e dá corpo à nossa Fé?
Quem é que se pode convencer que é obra das suas palavras e só das suas palavras aquilo que fica como semente, no coração de quem ouve?
Quando for verdade em nós , o que dizemos, fazemos, ou queremos ensinar não há que ter medo ...formamos uma equipa de sucesso com um Deus que tanto faz germinar a pequenina semente sem nós fazermos nada, senão esperar, como, enquanto olhamos para o lado, mete na baliza o golo mais espantoso... Já tinhamos saudades!