sábado, 20 de junho de 2009

Catequese (IV)

E, por fim, cá temos o último texto - e a revelação de quem afinal é o autor!

«Se, por fim, nos encontramos entristecidos por algum erro ou pecado nosso, recordemos não só o espírito arrependido é um sacrifício para Deus, senão também aquela frase: “Como a água apaga o fogo, assim a esmola extingue o pecado” (Sab 3,33), e também: “Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Os 6,6).

Assim como, em perigo de incêndio, acudiríamos zelosos em busca de água para poder apagá-lo, e nos alegraríamos de que algum vizinho pudesse proporcioná-la, do mesmo modo, se da nossa palha surgiu a chama do pecado e por isso nos perturbámos, uma vez que nos surge uma ocasião de uma obra cheia de misericórdia, alegremo-nos disso como se fosse uma fonte que nos é oferecida na qual podemos apagar o incêndio que deflagrou.

Além disso, se obrar assim fosse apenas útil, e o deixar de obrar não apresentou nenhum dano, desprezaríamos estupidamente, em perigo de salvação não só do nosso próximo senão de nós próprios, o remédio oferecido. Mas quando da boca do Senhor ressoa ameaçadora esta frase: “Servo inútil e preguiçoso, devias ter distribuído o meu dinheiro aos trabalhadores” (Mt 25,26), que loucura cometeríamos se, por nos sentirmos aflitos pelo nosso pecado, caíssemos de novo em pecado por não dar a quem pede e deseja o tesouro de Deus?

Uma vez dissipada a treva dos nosso tédios com pensamentos e considerações deste tipo, o espírito aparece preparado para a catequese, afim de que possa ser inculcado com suavidade o que brota alegre e gozosamente da fonte abundante do amor. E estas coisas não sou eu quem tas diz, senão que é o próprio Amor que foi difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado… (Rom 5,5). »

Pois bem, esta série de textos pertencem a S. Agostinho, cristão do século IV-V d. C. Pertencem a um pequeno livro chamado A Catequese dos Principiantes e foi escrito entre os anos 400 e 405 d.C. São, portanto, textos com cerca de 1600 anos, mas a mim parecem-me de uma actualidade e sabedoria tremendas! A tradução é minha, a partir do espanhol, perdoem-me a pouca qualidade.
Agostinho foi bispo de uma cidade do norte de África chamada Hiponna, e é considerado um dos maiores génios como escritor da história do cristianismo e da humanidade. Este pequeno texto é uma carta escrita a um diácono da cidade de Cartago chamado Deogracias (hihi!), catequista dos chamados Accedentes, ("aqueles que acedem"), grupos de pessoas que pediam a admissão ao catecumenado, jovens filhos de cristãos, adultos etc. Espero que tenham gostado! Um grande abraço

4 comentários:

Sol da manhã disse...

:D :D :D

Eu gostei muito!

Um grande abraço!

Anawîm disse...

pois...

tem algum interesse, sim... embora no meio de tudo isto não concorde muito com aquela parte "desejamos levá-los até à contemplação artística do autor, e que desde ali se elevem até à admiração e louvor de Deus, criador de todas as coisas, onde reside o fim do amor mais fecundo"...
Será mesmo esse o tal fim do amor mais fecundo?

Agradeço-te a partilha... um abraço grande

Rui Vasconcelos disse...

Olá Anawîm!
De facto podemos ser críticos em relação à linguagem de Agostinho, marcou a história do cristianismo, nalgumas coisas de um modo mais negativo. E claro que muita da sua linguagem hoje já não serve para partilhar a Fé.
O que achei de interessante nestes textos não foi tanto a linguagem de fé dele (tanto que isso pertence a outra parte da obra que eu aqui não coloquei), mas o espírito e os conselhos práticos para uma catequese: numa altura em que precisamos de renovar a partilha da nossa fé junto dos que se encontram connosco, até num momento inicial, procurar neste período fecundo da hístória da Igreja alguma inspiração pode ser interessante.
Um grande abraço, obrigado pelos comments!

Anawîm disse...

É, Rui... eu não vou muito à bola com o Agostinho, nãh... eheheheh...

Concordo contigo... é mesmo interessante ver como desde tão cedo já se via aqui a preocupação de anunciar BEM o Reino de Deus já presente por Jesus...
Infelizmente é uma preocupação que não se vê muito hoje e encontrar pessoas ou carismas como é o Redentorista que colocam esse princípio como fundamental, esta procurar encontrar linguagens e modos sempre novos de transmitir a Boa Notícia... é como encontrar pérolas de grande valor que não se devem desprezar e tanto temos que aprender com elas...
E até em termos técnicos, estudos e técnicas de comunicação "pagãos" (eheheh), com qualidade, já não nos faltam... é preciso é este interesse e preocupação que realmente louvo e dá gosto ver em Agostinho.
Fazer o melhor possível... a História da Salvação merece o melhor de nós nela.

Um abraço... e agradeço teres-me feito pensar nisto mais um pouco