sexta-feira, 31 de julho de 2009

Afonso de Ligório III: a Oração, caminho no Amor


“O meio mais necessário para a vida espiritual e para ganhar o amor de Jesus Cristo, é a oração (...) Por este meio Deus nos faz conhecer o grande amor que nos tem” (Prática de Amar a Jesus Cristo). O Seguimento de Jesus é viver uma Aliança com ele. É comprometer a nossa vida com ele e com o Reino do Pai. É um caminho de transformação pessoal, no Espírito, rumo ao Homem Novo. Como vimos, para Afonso, este caminho espiritual assenta num processo de conversão e no procurar viver a vontade de Deus-Pai a meu respeito.

Este processo é exigente. É claro que não bastam as nossas forças, a nossa boa-vontade. Só acontece como resposta de amor ao Deus que nos amou primeiro, o próprio Pai nos assiste neste caminho, que acontece no Espírito: «Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu pedirei ao Pai que vos envie um outro Paráclito, que esteja convosco sempre» (Jo 14, 15-16). No pensamento de Afonso, é a Graça de Deus que nos permite conhecer e viver a sua vontade: “A oração é o meio mais necessário e certo de alcançarmos todas as graças necessárias para a salvação” (O grande meio da Oração, n°1).

Para Afonso, a atitude de oração é todo o contrário da atitude de auto-suficiencia, egoísmo e isolamento: é a atitude da abertura, do acolhimento do grande dom de Deus em Cristo, o Espírito Santo, acolhimento da sua Graça, da sua Salvação para nós. É o motor de uma vida de Aliança, de comunhão pessoal, de caminhar na vontade do Pai que é a nossa salvação e de ter a força do Espírito para as difíceis opções de conversão.
A oração (que, mais do que actos ou momentos, é uma atitude fundamental de acolhimento e abertura ao Amor de Deus-Pai) torna-se, por isso, condição de salvação, porque condição de viver no Amor, a Deus e aos irmãos: por isso a célebre máxima de Afonso “quem reza se salva, quem não reza certamente se condena” (Ibid). «Permanecei em mim e eu em vós. Como o sarmento não pode dar fruto por si só, se não permanecer na videira, tampouco vós, se não permaneceis em mim. Eu sou a videira, vós os sarmentos: quem permanece em mim e eu nele, dará muito fruto; pois sem mim não podeis fazer nada» (Jo 15, 4-5).

É no rosto amoroso de Deus que é Pai, revelado na história da Salvação em Jesus Cristo, que Afonso deposita a possibilidade da vida de Fé e Oração. “Jesus Cristo, na oração do Pai-Nosso que Ele ensinou para obter todas as graças necessárias para a nossa salvação, como nos ensina a chamar a Deus? Não “Senhor”, não “Juiz”, mas Pai; Pai-Nosso, porque quer que nós busquemos de Deus as graças com aquela confiança com a qual um filho, pobre ou enfermo, busca o alimento ou o remédio ao seu próprio pai” (Necessità della Preghiera). Por isso convida ao diálogo familiar e confiante com o Abbà: “Tende o costume de lhe falar a sós, familiarmente, com confidencia e amor, como a um vosso amigo” (Modo de falar continua e familiarmente com Deus, n°6).

Diante da eficácia ou não da oração (que está sempre em função da caridade), Afonso apresenta determinadas condições. Uma delas é precisamente a confiança: esta assenta na fidelidade que o Pai demonstra aos seus filhos. Significa comprometer-me com o que peço, colaborar para que aconteça, arriscar as consequências. Sem esta confiança e abertura, saímos derrotados à partida: é permanente que, depois de um milagre, Jesus diga «A tua Fé te salvou» (Lc 7, 50; 8, 48; 17, 19; 18, 42). É abrirmo-nos à força de Deus em nós: “Toda a nossa força consiste em colocarmos toda a nossa confiança em Deus e em nos calarmos, quer dizer, em repousarmos nos braços de sua misericórdia, sem confiar em nossos esforços e nos meios humanos” (O grande meio da Oração, p.72).

Outra condição é a humildade: como atitude de abertura, a oração “baixa” todas as nossas defesas à acção de Deus, como podem ser o orgulho e a soberbia. É importante ler o exemplo apresentado por Jesus do «fariseu e do colector de impostos no templo, para alguns que confiavam em sua própria honradez e desprezavam os demais» (Lc 18, 9-14).

Por fim, a perseverança: “a graça da salvação não é uma única graça, mas uma cadeia de graças que depois todas se unem com a graça da perseverança final. Ora, a esta cadeia de graças deve corresponder uma outra cadeia, a das nossas orações” (Necessità della Preghiera). As transformações fundamentais da nossa vida não acontecem de um dia para o outro: são um caminho, um processo que precisa de renovar-se dia após dia na oração.

É na oração mental que o crente torna seu, assume, explicita numa linguagem sua a Palavra escutada, lê a sua vida à luz desta e responde com “afectos”, com o diálogo tu-a-tu com Deus-Pai, e com decisões de conversão pessoal. “Devemos pedir a Deus a graça de não pensar, de não procurar, e de não querer senão o que Deus quer, pois que toda a santidade e perfeição do amar consiste em uniformizar-se a nossa vontade com a vontade de Deus” (O grande meio da Oração, p.63).


E com estes terminam os três textos dedicados às pistas que Afonso propõe no Seguimento de Jesus. Para todos os que costumam acompanhar por aqui, um bom fim-de-semana e uma boa festa de S. Afonso de Ligório!

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