quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pai Nosso...

«Rezai, pois, assim:
Pai nosso, que estás no Céu,
santificado seja o teu nome,
venha o teu Reino;
faça-se a tua vontade,como no Céu, assim também na terra.
Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia;
perdoa as nossas ofensas,como nós perdoámos a quem nos tem ofendido;
e não nos deixes cair em tentação,mas livra-nos do Mal»
(Mt 6,9-13; cf. Lc 11,2-4)

No Evangelho de Mateus, o tesouro do Pai-Nosso é-nos transmitido no chamado Sermão da Montanha, como que a grande proclamação da Nova Aliança inaugurada por Deus em Jesus, tal como os discursos de Moisés no Sinai. Do mesmo modo, em Lucas, o texto é-nos transmitido com algumas diferenças no contexto da chamada “Subida para Jerusalém” (Lc 9,51) na qual o caminho de Jesus para a Páscoa é o caminho da realização do Projecto de Deus.

Deste modo torna-se claro que a oração do Pai-Nosso nasce no caminho da vida de Jesus e da sua entrega pelo Reino de Deus, e é aí que ela tem o seu sentido. “Procurai antes de tudo o Reino de Deus e a sua justiça, e o resto vos darão por acréscimo” (Mt 6,33). O Pai-Nosso é uma chave fundamental para abrir os segredos do Reino, isto é, a Presença, Acção e Relação de Deus junto do seu Povo. Por este caminho de oração que os discípulos percorrem com o Mestre, vamos reconhecendo o Rosto de Deus que é sempre um Rosto Pessoal e Relacional: o que Deus está a construir connosco e entre nós. «Porque o Reino de Deus já está entre vós» (Lc 17,21).

Pai… Pai-Nosso… Nome… Reino… Vontade…
Pão… Perdão… Libertação do mal…

Colocamo-nos na pele de um discípulo de Jesus e aprendemos, no caminho destas palavras, a descobrir com os irmãos a Presença e Vontade salvífica que Deus está a realizar com o seu Povo. Torna-se a abertura ao Amor Transformador deste Deus que quer construir uma História connosco. «Se eu expulso os demónios com o dedo de Deus, é porque chegou a vós o Reino de Deus» (Lc 11,20).

Já estamos longe de ver o Pai-Nosso como uma fórmula; é um erro grave ensiná-lo ou transmiti-lo fora do contexto do Reino, cuja vida de Jesus é a imagem e o drama por excelência. Vimos que esse erro os evangelistas não o cometeram. No caminho do Pai-Nosso, a oração torna-se a resposta do discípulo à História de Comunhão que Deus está a escrever connosco em Jesus.

Um Deus a quem chamamos de Pai… Não se trata apenas de uma linguagem sentimental ou afectuosa; o crente que pertence à comunidade dos discípulos reconhece a Jesus como o «Ressuscitado dos mortos» (Rom 6,9), Ressuscitado pelo Vida e pelo Amor pleno de Deus que é o Espírito Santo (Rom 1,4). A Ressurreição é a plenitude da relação pessoal, da comunhão de Jesus com Deus: uma relação filial. E aqui os crentes sabem com seriedade que a verdade do Nome de Deus é Pai: «Pai de nosso Senhor Jesus Cristo» (Ef 1,3). A Ressurreição de Jesus revela e atrai a todos (Jo 12,32) à verdade de Deus: como Pai.

E nas mesmas comunidades de discípulos proclama-se a Ressurreição de Jesus como o Acontecimento Maior da história da Humanidade:
«Quando chegou a Plenitude dos Tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! - Pai!" Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus» (Gal 4,4-7).

Na Páscoa de Jesus temos a Revelação plena do Amor de Deus na nossa história: é o Pai de Jesus, «o Filho que está no seio do Pai» (Jo 1,18), o Pai que desde a Eternidade pronuncia a Palavra: «Tu és o meu Filho muito amado, o meu Predilecto» (Mc 1,11). E é no seio desse diálogo familiar revelado na nossa História que se inaugura a Salvação, o Reino: «Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos!» (1Jo 3,1).

E de novo regressamos ao Pai-Nosso, depois de mais um mergulho na beleza deste Projecto de Salvação, «o Mistério escondido por séculos e gerações e agora revelado aos consagrados, a quem Deus quis dar a conhecer a sua esplêndida riqueza» (Col 1,26). No seio deste Projecto, desta História de Amor, é onde entramos ao receber o tesouro do Pai-Nosso. E pronunciá-lo ou escrevê-lo, com Jesus e nos seus passos, é tornar-se membro desta Família, é aprender a sua identidade. É um caminho de verdadeira humanização.

Como filhos e irmãos… de um Pai que é nosso…
no seu Nome, no seu Reino, na sua Vontade…
no Pão… no Perdão… na Libertação…


E Pronto! De novo interrompo por aqui o blog, desta vez por motivo de férias YEEEESSSSSSS!!! A quem tiver essa possibilidade, desejo umas boas férias. E dentro de algum tempo, cá estaremos de novo.

2 comentários:

Sol da manhã disse...

Hmmmmm....

Bom, então desejo-te uma férias MUITO boas, pelo caminho de verdadeira humanização :)!

Um grande abraço!

calmeiro matias disse...

Obrigado pelo modo como estás a aprofundar os temas dca fé.
Um abraço
Calmeiro Catias