domingo, 11 de outubro de 2009

Origem da Igreja e Ministérios (II)

Os ministérios ou serviços nascem no seio das comunidades: estas formam o Corpo de Cristo (1Cor 12,27), nas quais os discípulos, cada um com o seu carisma, articulam esta comunhão orgânica na qual o Ressuscitado se torna Presente como a Cabeça. Os episcopos (palavra grega que significa vigilantes ou coordenadores) e os presbíteros (palavra que significa anciãos) nascem como ministérios de liderança nas comunidades.

As comunidades nasciam da evangelização efectuada pelos apóstolos itinerantes (como os Doze a partir de Jerusalém ou Paulo e Barnabé a partir de Antioquia) e, quando a comunidade iniciava, os apóstolos designavam de entre ela a episcopos e presbíteros que a lideravam. É este esquema que encontramos na Carta de Paulo a Tito, já dos anos 70-80 d.C:
«Deixei-te em Creta, para acabares de organizar o que ainda falta e para colocares presbíteros em cada cidade, de acordo com as minhas instruções» (Tit 1,5). Nesta carta encontramos também referência às presbíteras ou anciãs que desempenhariam também um papel de liderança e ensino: «Do mesmo modo, as anciãs tenham um comportamento reverente, não sejam caluniadoras nem escravas do vinho, mas mestras de virtude, a fim de ensinarem as jovens a amar os maridos e os filhos» (Tit 2,3-4).

Não encontramos no Novo Testamento uma clara distinção entre os dois ministérios: ambos designam o serviço de liderança nas comunidades quando estas adquiriam uma caminhada mais estável. O termo presbítero será de tradição judaica, das comunidades que surgiam do judaísmo na Palestina, e seguiam de perto a estrutura comunitária que já então encontrávamos na Sinagoga. O termo episcopos será de tradição grega, das comunidades vindas do helenismo.

Ao olhar para as nossas origens podemos ver como o mistério mais profundo da Igreja não é apresentado em termos de organização ou hierarquia, mas como Corpo de Cristo, comunhão orgânica e viva dos discípulos que em comunidades vivem a memória da vida de Jesus e testemunham a sua Ressurreição como acontecimento de salvação. As comunidades nascem vinculadas ao testemunho dos Doze Apóstolos, não em termos de poder ou hierarquia, mas de autoridade e reverência. No seio destas comunidades nascidas pelo anúncio da Palavra (é este o sentido da palavra Ecclesia, assembleia convocada pela Palavra), cujo centro é a Presença do Ressuscitado e a acção do Espírito Santo, nascem os ministérios ou serviços.

A Igreja continua a crescer no Império Romano do século I d. C., como nos narra o livro dos Actos dos Apóstolos, que lê esse crescimento como um Projecto de Deus de universalidade, desde Jerusalém até Roma. Este crescimento dá-se pelo dinamismo evangelizador das comunidades, que consagram e enviam a apóstolos itinerantes para anunciarem o Evangelho noutros territórios. É o esquema que encontramos em Act 13,1-4, com Paulo e Barnabé a serem enviados pela comunidade de Antioquia:

«Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado ‘Níger’, Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir».

As comunidades que são fundadas estão ligadas em comunhão com o Apóstolo que as funda e com a comunidade “mais velha” ou anciã da qual são enviados os missionários. Paulo escreve cartas às comunidades por si fundadas para que permaneçam fiéis ao Evangelho por ele anunciado (Gal 1,8). A Timóteo, pede-lhe que continue a transmissão (de onde vem a palavra Tradição) do Evangelho tal como o recebeu: «Quanto de mim ouviste, na presença de muitas testemunhas, transmite-o a pessoas de confiança, que sejam capazes de o ensinar também a outros» (2Tim 2,2).

Não encontramos aqui um esquema hierárquico ou centralizado para designar a relação entre as comunidades, como também não o encontramos na relação entre os membros da comunidade e os seus líderes. A comunidade está vinculada ao Evangelho que recebeu e nele deve permanecer fiel, em comunhão com o Apóstolo ou a Comunidade que a fundou.

Aqui desenvolve-se o papel do Episcopos: nos séculos II e III designam os líderes das comunidades fundadoras ou anciãs, como eram os casos de Jerusalém, Antioquia ou Roma. Estas comunidades possuíam uma autoridade especial, de reverência, por teres sido das primeiras a nascer, com os Doze, e por possuírem um grande dinamismo evangelizador. As comunidades fundadas permanecem fiéis ao Evangelho de Jesus se permanecem unidas à comunidade maior que as fundou, garantindo-se a transmissão (Tradição) do Evangelho. O Episcopos é o líder da comunidade maior ou anciã, com a missão de vigiar e cuidar da comunhão orgânica entre as comunidades, para que unidas formem o Corpo de Cristo, mediação de encontro e sinal da presença do Ressuscitado.

Vemos que as relações no seio da Igreja não são de tipo hierárquico, organizativo ou territorial: a estrutura de dioceses e paróquias será copiada mais tarde da divisão administrativa do império romano. A vida da Igreja acontece nos laços do anúncio do Evangelho e da acção do Espírito Santo pela mediação dos carismas e ministérios. O ministério do Episcopos ou Bispo, que surge na liderança de comunidades nascidas no contexto helénico, torna-se o de animar, cuidar e vigiar a comunhão eclesial: como líder da comunidade fundadora ou anciã, deve acompanhar as comunidades que nascem da evangelização, animando o seu crescimento e cuidando da comunhão entre elas. Como nas origens da Igreja, a sua missão hoje não é a de estar no topo de uma hierarquia ou estrutura, mas a de animar, como líder da comunidade anciã, a evangelização e crescimento das comunidades a ela unidas na comunhão eclesial.

um grande abraço e boa semana!

1 comentário:

calmeiro Matias disse...

Olá Rui Pedro
Trabalho competente e clarinho. Parabéns!
Um abraço
Calmeiro Matias