quarta-feira, 12 de setembro de 2007

1. Um carisma de radicalidade


Depois de uma pequena pausa, partilho agora convosco em 3 posts um pequeno texto de explicação sobre a vocação missionária na Igreja e no Reino. Preparamo-lo em conjunto, o Rui Santiago e eu, para explicitar um pouco a Profissão Religiosa que eu celebrei em Gaia, no último domingo.



No final de um ano chamado Noviciado, como Missionários Redentoristas nos decidimos firmemente a viver o Evangelho com o jeito Missionário e Apostólico; então acontece uma Celebração muito importante: a Profissão Religiosa. A palavra “Profissão” vem de “Pro-Fessare”, que significa, “dar bom testemunho”. A Profissão Religiosa é o distintivo do estilo de Vida na Igreja chamada “Vida Religiosa” ou “Vida Consagrada”.

Mas, afinal, qual o sentido da Vida Religiosa na Igreja? Porque existe este jeito especial de viver o Evangelho? É outra categoria de discípulos, tipo uma classe à parte, uma elite? E o que os distingue dos “outros padres”?

Para compreender esta opção de vida, é obrigatório ter presente o significado do Baptismo. Jesus nunca criou classes distintas de discípulos, como se os houvesse “de primeira divisão” e de “segunda”. Jesus convida homens e mulheres a serem seus discípulos na construção do Reino de Deus. Esta vocação cristã, a ser o Cristo hoje, é proclamada e assumida… no Baptismo!

No Baptismo, que infelizmente não temos muito valorizado por estarmos habituados a fazê-lo enquanto crianças, encontramos consequências e exigências, não impossíveis ou sobre-humanas, mas verdadeiras e reais. A vivência do Baptismo no Espírito Santo de Jesus Ressuscitado, a escuta da Palavra e o configurar o Coração nela, a pertença e construção de contextos comunitários de oração e fraternidade, tudo são exigências do Baptismo para a emergência do Reino de Deus.

Tudo em função do único mandamento do Amor a Deus e aos irmãos. Estas são as dimensões fundamentais de viver como cristão, em Igreja. Então, se todos são chamados a viver estas dimensões, como surgiu a Vida Religiosa na Igreja?

A Igreja, Corpo de Cristo, “é apenas uma, com muitos membros”, mas existe diversidade de carismas. Na carta aos Efésios, diz Paulo: “um só é o Senhor, um só o Espírito, um só o Baptismo”. Os carismas são acções do Espírito a partir das possibilidades e disponibilidades de uma pessoa, que a consagra para o serviço da comunidade e do Reino.

A Vida Religiosa não é outra categoria de discípulos, mas um carisma, ou uma diversidade de carismas no seio da Igreja. Em toda a história da Igreja, desde os primeiros mártires pela Fé, sempre surgiram homens e mulheres apaixonados de modo especial pelo Evangelho. Experimentaram o Amor-Graça de Deus-Pai e a urgência do seu Reino. Olharam para a vida de Jesus e quiseram segui-lo e imitá-lo de um modo especial. Fizeram uma experiência de radicalidade e liberdade guiados pelo Espírito.

S. Francisco de Assis, S. Afonso de Ligório, Madre Teresa de Calcutá… Homens e mulheres que descobriram as exigências do Evangelho e do Baptismo e procuraram assumi-las no máximo das suas possibilidades.

Procurando viver essas exigências do Evangelho no contexto de famílias na Igreja que os acolhem – como os Redentoristas – tornam-se sinal e presença do que significa ser discípulo de Jesus. Não deixam de ser leigos, isto é, pertencentes ao “laikos”, que significa “membros do Povo”, o Povo de Deus. E vivem essa vocação cristã de ser discípulos de Jesus, abraçando um serviço na Igreja, serviço que se torna Missão, Consagração de toda a vida, de todas as forças e tempo, para o Reino.

Como Redentoristas abraçamos o anúncio explícito do Evangelho como caminho de viver como discípulos de Jesus e como entrega pelo Reino.

Sem comentários: