quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

da divindade ao Deus-Família



Mentalmente, a ideia que nos é transmitida e que nos acompanha de Deus obedece a duas lógicas:

A lógica que recebemos na catequese do Deus do Antigo Testamento, que é o mesmo de Jesus, mas que sem Jesus tem uma imagem muito insuficiente… o Javé todo-poderoso, no mais alto dos Céus, um velho de longas barbas brancas, como o Abraão ou o Moisés dos filmes, que fala no meio de tempestades e fogo… no nosso inconsciente (e Freud desenvolveu umas quantas teorias sobre isso) se depois chamamos a este Javé de Pai, ele torna-se no modelo de pai que tiveram as nossas gerações mais velhas, o paternalismo autoritário…

Ou então, a lógica das filosofias, ou dos debates com o ateísmo, tentando provar a existência de um Alguém Divino, uma Substância ou um Mistério Supremo, sem rosto, sem atitudes, sem nome… só atributos: todo-poderoso, imutável, omnipresente, etc etc… É “alguma coisa” lá em cima, que não sabemos quem, totalmente indiferente nas nossas vidas.

Bem… pois o meu Deus, o Deus de Jesus, o único verdadeiro, é o Deus Comunhão, o Deus Família, Família de três Pessoas que se revelam na nossa história, com três jeitos e histórias de amar: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Dizer Deus é dizer Comunhão, relações familiares, o que os primeiros teólogos cristãos chamaram no grego de pericoresis (dança comunitária, exprime a mútua pertença, a total entrega e acolhimento – para compreenderem o que significa pericoresis, vejam o texto do meu irmão Rui Santiago).

Acredito nas Pessoas Divinas, no Abbá de Jesus e meu Abbá, no Filho que não duvidou em chamar-nos irmãos para sermos nele Filhos, o Espírito relacional, seio amoroso de emergência pessoal e amorosa, o Paráclito – defensor, advogado, consolador – dos discípulos… Sim, o meu Deus tem um rosto: o Rosto de quem se revela na história de Israel como o Deus da Aliança, o Rosto de quem Jesus fala em termos de Bodas e Ceias quando anuncia o Reino, o Rosto da Vida nova de Comunhão na Ressurreição… o Rosto de Comunhão de quem o Filho diz quanto ao Pai, no Espírito: “Eu e o Pai somos Um” (Jo 10,30), “o Pai está em mim e Eu no Pai” (Jo 14,10), “Que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós” (Jo 17,21).

E agora sim, faço silêncio… E escuto, e quero sentir, como consagrado, este breve rumor desta Comunhão… Faço silencio agora, e não antes: porque o meu Deus tem Rosto, e Nome, e há-que diz-lo, e anunciá-lo, e testemunhá-lo; depois, faço silêncio…
um grande abraço

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado por este testemunho de fé e de amor a Deus e aos irmãos.
Sem ti eu era mais pobre.

Anawîm disse...

Quem vive esta alegria profunda e serena de acreditar neste Nome com Rosto, não consegue mesmo calar em si toda a Vida que transborda deste conhecer, deste amar...
... quer seja na palavra feita anúncio ou consolo
... quer seja no silêncio feito enamoramento ou escuta

Rui Pedro, bendito seja o nosso Deus por ti... Abraço grande!...

Rui Vasconcelos disse...

Quem me conhece sabe que sou de poucas palavras...
Por isso, é mesmo um "salto", um parto na minha vida quando falo tanto!

um abraço e obrigado Anawin!