quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

o Homem (I): imagem de Deus



No início da Biblia, o livro do Génesis, escrito em Israel entre os séculos VIII e V a. C., apresenta a leitura que o Povo de Israel faz do mistério do Homem e da Criação. Os textos sobre a Criação não são de carácter científico, ou seja, não se preocupam em apresentar os factos de como aconteceu o início da história. Apresentam, à luz da Fé e da experiencia da Revelação de Deus, qual a vocação, o sentido e o valor do Homem e de toda a Criação para Deus. São textos teológicos, de fé, não jornalisticos.

É importante realçar o sentido e o valor que os textos reconhecem no Homem: “Deus criou o Homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher os criou” (Gén 1, 27). Para a Fé cristã, a vocação fundamental do Homem é ser imagem e semelhança de Deus. O Homem surge por vontade livre e gratuita de Deus: ao olhar para a sua Criação, Homem e Mulher, “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom” (Gen 1, 31). A verdade fundamental proclamada pelos textos biblicos não é negar as causas e a evolução apontadas pela ciência (não o pode fazer, o seu discurso é pré-cientifico), mas sim defender que o Homem, no seu mistério, tem a dignidade de ser imagem e semelhança de Deus, e mais, que Deus fica contente com a existência do Homem!

O que significa dizer que o Homem é imagem e semelhança de Deus? É uma experiencia viva, dinamica e real: o Homem está chamado à relação, ao diálogo e à Aliança com o próprio Deus, e está chamado a tornar-se o que Deus é desde toda a eternidade. Na linguagem dos textos do Génesis, essa imagem é a missão do Homem de ser o Senhor da Criação: apesar de pertencer à Criação, o Homem possui uma dignidade e uma vocação superiores a qualquer outro ser. “Deus abençoou-os e disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra” (Gen 1, 28).

À luz da Fé cristã, Deus é Pessoas, Família de três Pessoas numa comunhão eterna e plena de Amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim, o Homem é imagem e semelhança de Deus porque está chamado a construir-se, a emergir como pessoa. Ser Pessoa é essencialmente um jeito de ser e amar, único, original e irrepetível, talhado para as relações e a comunhão, livre, consciente e responsável. Assim, tal como a Divindade é uma Comunhão de Pessoas, a Humanidade também: uma comunhão de milhões de pessoas humanas. Entre as duas, Divindade e Humanidade, não há igualdade: uma é eterna, plena e perfeita no Amor, a outra está em construção, a emergir na história. Mas entre ambas há a possibilidade de diálogo, comunhão, Aliança, porque entre o Homem e Deus acontece a linguagem comum do Amor.
um grande abraço

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