sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

o Homem (II): a linguagem pessoal

Não podemos dizer que há uma linguagem especificamente cristã para falar do Homem. O especifico cristão é proclamar a dignidade e a vocação do Homem, chamado à comunhão com Deus e chamado a construir a Comunhão Humana. Quanto à linguagem, a Fé utiliza a maneira própria de cada tempo, lugar e cultura. O Génesis utiliza a linguagem própria do seu tempo, tal como os Evangelhos, linguagem que hoje nos pode parecer dificil. Hoje devemos utilizar a linguagem que nos é fornecida pela cultura e pelas ciências que estudam o Homem: a sociologia, psicologia, antropologia cultural, etc.

A linguagem tradicional que herdamos fala do Homem em termos de Corpo e Alma. É uma linguagem não-biblica, presente na cultura greco-romana anterior a Cristo e em que o cristianismo se expandiu ao sair de Israel. É uma linguagem que herdamos para falar das experiencias e dimensões que reconhecemos em nós próprios: de exterioridade, ligação com o mundo que nos rodeia pelos sentidos, afectos (Corpo) e de interioridade, pensamento, intimidade (Alma). É uma linguagem que conduziu durante a história da Igreja a conclusões e vivências contrárias à Fé Cristã: dividiu o Homem “ao meio”, entre princípios considerados contrários; conduziu ao desprezo das realidades corporais (a expressão dos sentimentos, a sexualidade, o empenho histórico) afirmando que só enquanto “Alma” o Homem é imagem de Deus.

Hoje, a linguagem mais indicada para falar do Homem, muito desenvolvida no século XX, é a linguagem da Pessoa. Esta privilegia uma compreensão do Homem mais próxima da linguagem biblica e da Fé Cristã:

  • O Homem como ser uno: não um ser dividido ou composto, mas numa integração de diversas dimensões, a corporal, a psíquica, a espiritual, a sócio-cultural, em que todas e cada uma formam a única identidade pessoal;
  • O Homem como ser em relações: a nossa identidade emerge e reconhece-se apenas no encontro, no diálogo, na comunhão; realizamo-nos na medida em que vivemos projectos de Aliança e fraternidade, na medida em que partilhamos a responsabilidade pela nossa felicidade e a dos nossos irmãos;
  • O Homem como ser em construção: não nascemos feitos ou pré-determinados como os animais nos seus instintos; construimo-nos numa história em opções, atitudes, projectos e experiencias; cada uma de nós constroi a sua história de modo único, original e irrepetível e, embora sejamos fruto das possibilidade que nos são oferecidas (o contexto histórico-social em que nascemos, o contexto familiar com as suas possibilidades e limitações), ninguém pode substituir-nos na nossa vocação, missão a construirmo-nos na nossa história como pessoas livres, felizes e realizadas no Amor (nem o próprio Deus: está connosco, está ao nosso lado, mas nunca em nosso lugar);
  • O lugar central da Consciência: mais que um conjunto de leis e regras, a consciência é o conjunto dos nossos valores, experiencias e critérios que vamos formando ao longo da nossa história e que nos conduzem a tomar opçoes e atitudes. É o “Templo do Espírito Santo”, onde nos interpela e convida, de modo suave e nunca opressivo, a agirmos no sentido do Amor, da Verdade e da Justiça.

um grande abraço

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