segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Um Amor Eterno: I.A Experiência de Israel

Começo hoje uma série de partilhas sobre o caminho bíblico de descoberta do Rosto de Deus, até à compreensão do seu Rosto Famíliar; perante um "tema" destes, todas as partilhas serão sintéticas e esquemáticas - perdoem-me a minha lata!
E já agora, convido-vos a visitar o zaqueujr, o blog do grupo de jovens do qual pertenço; podem acompanhar a nossa caminhada e deixar um comentário!


Apesar de falarmos tanto da chamada “conversão de Paulo”, no sentido da sua passagem de perseguidor dos cristãos a perseguido como Apóstolo de Cristo, para Paulo essa “conversão” não significou uma ruptura e uma negação do seu passado. Pelo contrário, vemos pelas suas cartas que, para Paulo, acreditar em Jesus como o Cristo é a vocação do verdadeiro Israel, pois o Deus que enviou e ressuscitou a Jesus é o mesmo Deus de Israel, o Deus dos Patriarcas, o Deus da Promessa e da Bênção, o Deus da Aliança. É do seio desse Povo e da história que Deus escreve com o Povo que nasce Jesus, o Cristo, e é para Cristo que aponta e conduz essa história.

Uma coisa é clara, tanto para Paulo como para Jesus e os Apóstolos, todos judeus: o Deus que intervém de modo novo e radical na história humana, em Jesus, é o mesmo Deus que se revela na história de Israel. Esta história será fulcral para a compreensão do Mistério da Salvação que se realiza em Cristo. Nas primeiras gerações de cristãos, mesmo nas comunidades vindas do paganismo, o caminho catecumenal assumia a leitura da Revelação de Israel como história salvífica de preparação para o acontecimento de Cristo.
Então, qual a experiência de Revelação progressiva e sempre entre condicionamentos culturais, que faz Israel?

· É o Deus que liberta o Povo cativo no Egipto e com eles forma uma Aliança; sob a liderança de Moisés, um povo de escravos ou de baixa categoria social (operários, pastores, nómadas) faz a experiência de que uma Divindade, que recebe vários nomes consoante as tradições (Javé, Elohim) os elege como Povo e deseja a sua libertação para uma Terra Prometida, “uma terra onde mana leite e mel”, onde o Povo, na liberdade, o possa servir e adorar. É um Povo que faz a experiência da Libertação e da Eleição da parte deste Deus, que com eles sela uma Projecto, uma Aliança.

· É o único Deus, Verdadeiro e Fiel: é a grande luta dos profetas mais antigos em Israel (Elias, Eliseu, Oseias, Samuel, primeiro Isaías), que, no contexto de Israel como reino lutam pela definição religiosa no Monoteísmo. Perante as politicas dos reis israelitas que para se defenderem cediam ao culto a outras divindades, arrastando todo o Povo, os Profetas apelavam para a fidelidade à Aliança de Moisés, renovada com David e em cada entronização de um novo rei. A grande aquisição é que, perante os ídolos mortos, o Deus de Israel é o Deus Vivo e Verdadeiro, Fiel e Firme, em quem o Povo pode confiar e esperar a Salvação. O monoteísmo é uma novidade radical em Israel rodeada de povos politeístas até culturalmente mais avançados (Egipto, Babilónia, Grécia); a Fé no único Deus da Aliança, que liberta e elege o Povo por sua própria iniciativa e Graça, é uma Boa-Nova perante as divindades pagãs pensadas em modelos semelhantes às intrigas e disputas de uma qualquer corte de um palácio real.

· É o Deus da Criação e da Bênção, o Deus Universal: na sua história sapiencial Israel vai descobrindo que o seu Deus, o único Deus é também o Deus de toda a Criação e de todos os Povos. É aqui que surgem os relatos do Génesis, que cantam a beleza de uma Criação querida por Deus e onde o Homem possui a dignidades de senhor perante todos os seres vivos, à imagem do seu Criador. A Bênção e a Promessa a Abraão são “para todas as famílias da terra”; Israel começa a experimentar que toda a história humana, e não só a sua própria história, é guiada e conduzida por Deus para a Salvação.

· É o Deus da Esperança, o Deus que conduz o Povo para a Salvação: é esta Salvação que Deus promete, Salvação que se alia em Israel à espera de um descendente de David, de um Eleito que traria a plenitude dos dons de Deus para Israel e, por Israel, para todos os povos. Esta esperança messiânica teve muitas formas na Tradição do Antigo Testamento (profética, apocalíptica, real, sacerdotal) e é nelas que os discípulos lerão a Missão de Jesus Ressuscitado como o inaugurador do Reino de Deus.

Em síntese, temos a experiência fundamental que Israel faz da Revelação de Deus: é um Deus Vivo, que intervém por pura Graça para eleger e resgatar a Israel e selar uma Aliança; é o único Deus, livre de todos os ídolos mortos criados à imagem deformada dos homens, e logo dos poderosos; é o Deus Criador, que guia a história para a Salvação Universal, que chegará através de um Homem, um Ungido.
um grande abraço

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