terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Um Amor Eterno: II. Jesus, o Ressuscitado

A vida e a actividade de Jesus em Israel no tempo da ocupação romana levantaram expectativas no seio do povo e sobretudo da parte dos discípulos: será ele o Eleito, o Ungido, o Enviado por Deus para estabelecer a Paz e a Salvação, o Reino? O seu anúncio da chegada do Reino e da chamada à conversão, a autoridade do seu ensinamento, a multidão que congrega à sua volta e a libertação que acontece naqueles que com ele se encontram, tudo são sinais de um mistério que parece que vem do próprio Deus.

O mesmo Jesus, na sua actuação apresenta alguns sinais de que a sua missão é unir o Povo de Israel no acolhimento de uma Salvação de Deus que já chegou: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15). Chama e reúne 12 discípulos para com ele viverem, 12 Apóstolos que simbolizam as 12 tribos de Israel; proclama “os teus pecados estão perdoados” (Mc 2, 5), num perdão que só pode vir do próprio Deus.
Se, por um lado, tenta purificar os discípulos das esperanças politico-messianicas, recusando as aclamações populares, por outro lado manifesta-se como enviado pelo próprio Deus, cuja causa do Reino abraça e com quem vive uma relação filial que a Tradição preservou na expressão Abbá. As suas Parábolas apontam para uma acção decisiva de Deus a acontecer no seio da história do Povo, e essa acção, o próprio Jesus a vive e dela é mediação.

A Experiência Pascal, o reconhecimento de Jesus Vivo e Ressuscitado, vai provocar uma autentica Revolução na vida dos Apóstolos, “testemunhas da sua Ressurreição”, como uma pedra que bate no lago e cujas ondas chegam até nós e continuam na história. A morte de Cruz provocou nos discípulos a desilusão: afinal não é ele o Eleito de Deus, o “libertador de Israel”; um homem justo, um “profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o Povo” (Lc 24, 19), mas não o Messias.

Agora, os Apóstolos proclamam que, já que as autoridades judaicas rejeitaram a missão de Jesus, o próprio Deus a confirmou: entronizou e glorificou o Messias, não já num trono em Jerusalém, mas num trono no próprio Céu, à direita de Deus; a missão de Jesus como Messias é realizada plenamente: “ O seu Filho, nascido da descendência de David segundo a carne, constituído Filho de Deus em poder, segundo o Espírito santificador pela ressurreição de entre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso” (Rom 1, 3-4).

Ao proclamar a Ressurreição de Jesus, os Apóstolos não reconhecem apenas a sua sobrevivência após a morte: viveu como justo, Deus tomará partido a seu favor. É já popularmente assumido em Israel no tempo de Jesus que a fidelidade de Deus é a esperança de todos os justos, e sobretudo dos justos perseguidos, perante a morte: “Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos” (Lc 20, 38).

Mas, ao proclamar a Ressurreição de Jesus, os Apóstolos proclamam algo mais, algo que nunca fora anunciado sobre ninguém, nem sobre Moisés ou David: é que aquele homem, Jesus de Nazaré, foi assumido na própria Vida de Deus, recebeu todas as suas faculdades divinas, constituído “juiz dos vivos e dos mortos”, com todo o “poder, a honra e a glória” do próprio Deus, à sua direita. Para isso utilizam a linguagem real-messianica da entronização do rei de Israel: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Sal 2, 7; Heb 1, 5).

Por isso torna-se o portador da Salvação Universal para todos os irmãos: a partir do momento em que um Homem, na sua fidelidade, é constituído o Messias pelo Espírito na sua Ressurreição, estão inaugurados a “plenitude dos tempos”, o dom total da Salvação de Deus para toda a Humanidade: ”Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas. Tendo sido elevado pelo poder de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou-o como vedes e ouvis (…) Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado” (Act 2, 32-36).

Será aprofundando e aclamando este Mistério de Jesus como o Ressuscitado, o Ungido, o Filho assumido na vida de Deus, que os discípulos serão abertos a uma visão nova do Rosto do seu Deus conhecido pela história do Antigo Testamento.
um grande abraço

1 comentário:

Anónimo disse...

esta tua reflexão faz-me lembrar uma afirmação muito importante de São Paulo: "Ninguém é capaz de dizer que Jesus é o Senhor ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo"(1 Cor 12, 3).
A tua maneira bonita e profunda de nos apresentares Cristo ressuscitado´é para mim um sinal de que o Espírito Santo te está a conduzir.
Glória oa Senhor!