quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Um Amor Eterno: III. A Experiencia Salvífica das Comunidades

Antes de ser uma questão de tipo filosófico ou metafísico, o Rosto Trinitário de Deus aconteceu e foi sendo reconhecido nas primeiras comunidades cristãs pela sua importância salvífica. Antes de se pensar em “acreditar que Deus existe” como um fundamento ou um sentido básico para a realidade, reconheceu-se pela Palavra na História a acção salvífica realizada em Jesus, pelo “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” no Espírito Santo. Antes das definições filosófico-teológicas do século IV sobre a natureza das Pessoas Divinas, presentes no nosso Credo, temos uma Tradição de experiências vivas nas Comunidades na sua oração, liturgia, celebração, catequese e proclamação kerigmática.

Aí, na vida das comunidades dos discípulos, centradas na palavra, é reconhecida e proclamada a Salvação realizada na Ressurreição de Jesus. Vai-se aprofundando o Mistério do Filho que se revela glorificado: esse Mistério vai-se reconhecendo ao longo de toda a vida de Jesus, da sua Ressurreição para o seu baptismo no Jordão, do baptismo para o seu nascimento já como o Eleito. Os Evangelhos testemunham-nos essa caminhada.
Ao mesmo tempo, reconhecendo os horizontes universais da Salvação inaugurada em Cristo, que se estende a todos os homens, assume toda a história de Israel e da Humanidade e expande-se até à “consumação dos tempos” final, os discípulos colocam todos esses horizontes no Mistério do Filho que os ultrapassa, proclamado como o “Primogénito de toda a Criação”, em quem “o Universo, o celeste e o terrestre, alcançam a sua unidade” (Ef 1, 10), a quem “Deus exaltou, e lhe concedeu um título superior a todo o título” (Flp 2, 9).

À Salvação realizada em Cristo é associado o “Deus dos nossos pais, o Deus de Abraão, Isaac e Jacob” como o Autor dessa Salvação, num “Projecto, segredo escondido por séculos e gerações, e agora revelado” (Col 1, 26). O “Deus dos pais” é agora chamado de “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Cor 1, 3), a quem ressuscitou e assumiu como Filho na plenitude do Espírito, e a toda a Humanidade, toda a “Carne” nele.
Por isso o Amor do Pai é revelado no Filho: “Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos!” (1Jo 3, 1); filhos na liberdade, derrotado o pecado, porque “tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16) e “se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8, 36).

Por fim, as comunidades reconhecem a presença e acção do Espírito Santo no seu seio, “Espírito de Deus que habita em vós” (1Cor 3, 16), por quem “temos acesso ao Pai” (Ef 2, 18), o “Espírito de seu Filho, que em nós clama Abbá, Pai!” (Gal 4, 6). Já no Antigo Testamento, o Espírito de Deus é reconhecido como o princípio de acção e dinamismo de Deus na Criação, o Espírito que desde o princípio “se move sobre a superfície das águas” (Gen 1, 2). Foi este Espírito que ungiu a Jesus para a missão messiânica (Lc 4, 18), é o Espírito que o Filho recebe plenamente do Pai (Jo 3, 34) e sobre quem permanece para a todos baptizar no mesmo Espírito (Jo 1, 32).

É esta actuação do Espírito no projecto Salvífico realizado no Filho por vontade do Pai que os discípulos celebram e proclamam, reconhecendo uma mesma acção salvífica no seio das suas comunidades. É claro pelos escritos do Novo Testamento que a Salvação é sempre uma obra conjunta, na diversidade de acções, do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E é dessa leitura da Economia da Salvação que os discípulos louvam e glorificam a harmonia maravilhosa que os une num Amor Eterno. Por isso saúdam na “Graça do Senhor Jesus Cristo, o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo” (2Cor 13, 13).
um grande abraço

1 comentário:

Anónimo disse...

muito obrigado!
Só vale a pena ser cristão se for para viver a dinâmica do Espírito Sanyto, deixando-o actuar em nós!