Não podia ser de outra maneira. Pela sua mesma essência, o Amor de Deus ultrapassa toda a compreensão humana, e por isso é sempre insuspeitável, ainda quando já apareceu; sempre inconcebível, ainda quando a Fé já o aceitou. Verdadeiramente, Deus é maior que o nosso coração (1Jo 3, 20). Mas isso mesmo deve empolgar-nos para tentar sem descanso uma aproximação menos afastada, uma compreensão menos inexacta. A prova mínima de agradecimento ao Amor de Deus tem de consistir em tentar compreende-lo.
E isto resulta mais difícil do que parece. Continuamente projectamos sobre Ele os nossos fantasmas, o recortamos com a medida do nosso egoísmo, o carregamos com as nossas angustias e deformamos a sua imagem com as nossas ideologias. Não só a imagem vulgar e espontânea de Deus – com os seus medos, e suas obrigações – senão também a elaboração teológica – com as suas predestinações, as suas iras e vinganças divinas… -, devem ser revistas a fundo. O Amor de Deus, firmado sem limites nem temor – Deus é Amor (1Jo 4, 18), deve converter-se na matriz permanente e definitiva de toda a interpretação do seu agir para connosco.
Isto é, com toda a verdade, o princípio e fundamento. Se Deus é Amor, quer dizer que o é em todo o seu ser e em todo o seu actuar. Deus consiste em amar. Na nossa linguagem deficiente, devemos dizer que nem sabe nem quer nem pode fazer outra coisa. Deus, livre no seu mesmo ser – “Ele é o que quer ser” – escolheu-se a si mesmo como o que Ama. E por isso d’Ele só nos pode chegar o Amor. Podemos duvidar de tudo, começando por nós mesmos. Mas não nos é licito duvidar do seu Amor.
Nem sequer vale recorrer da profundidade infinita da sua incompreensibilidade, para alimentar a suspeita de que o “deus oculto” pudesse ser também outra coisa, que desde o seu abismo pudesse estar pendente sobre nós alguma obscura ameaça do “terrível”. Por Amor nos criou: para a nossa realização e a nossa felicidade (não “para a sua glória” no sentido que normalmente evoca esta expressão). E unicamente por Amor intervém na nossa história pessoal e colectiva: isso significa o seu ser salvador.
«Deus ama! Tal é a essência de Deus que aparece na revelação do seu nome. Deus ama! Ama como só ele pode amar. O seu Amor é o seu Ser no tempo e na eternidade. “Deus é” quer dizer “Deus ama”! Tudo o que em seguida podemos afirmar do ser de Deus estará sempre e necessariamente determinado por este facto. Todas as afirmações seguintes deverão indicar sem descanso este mistério. Em certo sentido, serão essencialmente um retomar e um repetir da afirmação inicial: Deus ama! Em síntese, o valor de todas as discussões seguintes depende rigorosamente da nossa vontade de não perder jamais de vista a definição fundamental: Deus é Aquele que ama; de modo que tudo o que havemos de dizer depois não será mais do que uma explicação desta definição» (K. Barth)
André Torres Queiruga, Del Terror de Isaac al Abbá de Jesús – Para uma nova imagem de Deus, Vigo 1999
Queiruga, é professor de teologia e filosofia das religiões em Compostela. Escreveu algumas obras sobre uma nova linguagem sobre Deus e a Fé para o século XXI.
3 comentários:
OBRIGADO, POR TERES VOLTADO!
jÁ CÁ FAZIAS FALTA.
O Deus das Novas teologias é mais bonito e mais digno de ser amado!
Mais uma vez obrigado
Olá Rui Pedro!
Que bonito o que escreves-te...fáz todo o sentido para quem vê DEUS assim, menos para aqueles que fázem de DEUS,um deus vazio de sentido.Sabes Rui,ás vezes sinto-me muito triste porque gostava de poder partilhar a cura da minha cegueira a pessoas que tanto gosto! Sabes? Aquelas a quem a gente gosta de partilhar as nossas alegrias e tristezas? são essas mesmo,só que não consigo,sinto que não está ao meu alcance faze-las entender e então limito-me só a testemunhar a minha alegria de viver.
Rui desculpa se me entusiasmei a escrever demais e não repares nos erros ortográficos se estiver muito mau não pobliques ok?
Obriogada.
Mila, muito obrigado pelo seu comentário - é um privilégio tão grande para mim ter aqui o que escreveu!
Muito obrigado pela cura que testemunha; sei a força com que o diz. Tenho a certeza de que é o seu mais belo testemunho.
De verdade que muito obrigado, Mila!
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