quarta-feira, 2 de abril de 2008

apresentando uma pessoa... (III)

Daqui saltamos para outra coisa que falamos muito: as nossas Relações. Somos pessoas em relações, precisamos de comunicar, de nos partilhar, de estar juntos – faz parte de nós! Por natureza vemos o rosto dos outros, não o nosso rosto.

Mas mesmo as nossas relações são marcadas por ritmos negativos… Somos pessoas em construção e, por isso, imperfeitas; vivemos a aprender e por isso às vezes erramos. Não somos evidentes uns aos outros, não vemos o que o outro sente e pensa no seu intimo, apenas vemos as suas feições e opções… Por isso tantas vezes as nossas relações são cortadas por gestos e acções que, se calhar, nem correspondem às nossas intenções ou são mal interpretadas…

Temos de tomar consciência de uma coisa que nos esquecemos muitas vezes: os outros também são pessoas em construção como nós! Às vezes gostamos muito de ser exigentes com os outros, e esquecemo-nos dessa exigência para connosco próprios… Precipitamo-nos, e damos se calhar demasiada importância a gestos e sinais do outro que, se calhar, não correspondem às suas intenções… E sobretudo, temos uma tendência clara que nasce connosco: a de reagir. Reagimos, mais do que agimos, e muitas, demasiadas vezes, reagimos depressa e mal!

Talvez fosse bom começarmos a aceitar que, tal como a nossa vida tem erros, quedas e falhas, também as nossas relações, os outros podem ter erros, quedas e falhas! E isso não significa que a nossa história com aquela pessoa tenha de terminar ali! Jesus, a este ponto, disse uma coisa muito interessante: perdoai, não 7 vezes, mas 70x7, que na Biblia não significa 490 mas sempre! Perdoai sempre!

Jesus não era um ingénuo: conhecia bem as pessoas e também sabia separar-se daquelas de quem via que não valia muito a pena misturar-se; mas sabia que o Perdão é uma das dimensões fundamentais da nossa vida e das nossas relações em construção, porque são marcadas por ritmos negativos. E perdoar não é passar uma esponja por cima: é renovar a nossa confiança, é dizer “sei que és mais e melhor do que demonstras e fazes”; amo-te assim como és, também nas tuas coisas que precisam de crescer, de amadurecer, de curar.

Uma última coisa que quero partilhar sobre o que costumo conversar com este meu amigo é sobre a Liberdade.
Temos uma ideia pobre de liberdade: liberdade é podermos fazer o que quisermos e nos apetecer, liberdade é viver sem responsabilidade, liberdade é poder escolher… Há-que não confundir liberdade com livre-arbítrio: o livre-arbítrio é a capacidade psíquica do ser humano em escolher entre o bem e o mal, a capacidade de não viver determinado pelos instintos, como os animais, mas de decidir na sua vida. O livre-arbitrio é fundamental para a nossa liberdade, mas não chega.

A Liberdade é, tal como o Amor, uma construção. Nós não nascemos livres, nós tornamo-nos livres! A Liberdade é fundamental na nossa vida como pessoas, e por isso depende do Amor: só é livre uma pessoa que vive no sentido do Amor, da verdade e da justiça. Por isso uma pessoa na prisão pode ser mais livre que o seu guarda: porque vive segundo a sua consciência, segundo o Amor.

A Liberdade é a aprendizagem a viver cada vez mais segundo os critérios e valores que temos, é aprender a lidar de modo criativo e responsável perante os acontecimentos e as situações, e não como fatalidades, é construir a nossa vida na maior entrega e disponibilidade para os outros. A maior libertação que temos de fazer é do nosso umbigo!

Bem, se calhar está na hora de apresentar-te esta pessoa que vem a conversar connosco.
Tu também a vais conhecendo, tenho a certeza. Chama-se o Homem Novo. Quem lhe deu este nome foi Paulo, na sua carta aos Efésios. O Homem Novo é o Pessoa que emerge e se constrói dentro de nós, na dinâmica do Amor, da Verdade e da Justiça. Também lhe conheço outros nomes: Juliana, Margarida, Hélder, Helena, Henrique, Lúcia, Ricardo, César, Jorge, Miguel, Soraia… =)

O Homem Novo é aquele que está a nascer em cada um de nós no meio das nossas imperfeições, dos nosso erros, das nossas falhas e ambiguidades… O Homem Novo somos verdadeiramente nós próprios, livres de tudo o que desfigura o nosso rosto e corta as nossas relações! É verdadeiramente lindo, este Homem Novo a nascer em cada um de nós, se calhar de um modo muito escondido e invisível…

Não é nenhum herói ou super-homem, este Homem Novo… É Homem, ser humano, pessoa: vive por isso em construção, a aprender a ser e a amar, e errar não é pecado! Ele aprende a, em cada queda, levantar-se, perdoar e perdoar-se, e continuar a caminhar; porque sabe que, que não arrisca a falhar, é porque não arrisca a viver…

Ele às vezes sai a conversar comigo, e diz-me: conto contigo para descobrires as coisas mais bonitas e importantes da nossa vida. Gostava que confiasses mais em ti próprio e nas tuas capacidades. És incrivelmente mais bonit@ do que às vezes te vês ao espelho… Deixa-te sonhar, voar, criar, arriscar, viver…


um grande abraço

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é Rui Pedro,agora tocas-te no ponto mais dificil!Isto é tudo muito lindo quando na prática se consegue fazer...eu até tento mas falho tanto...
Mas esta reflexão é uma mais valia para mim. Obrigada,obrigada mesmo por esta partilha.