quarta-feira, 9 de abril de 2008

uma resposta audaz... (II)

Tomando a palavra, Jesus respondeu:
«Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’
Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»
(Lc 10, 30-37)
Jesus conta-lhe uma parábola: às vezes estamos habituados a pensar que Jesus tinha as respostas certas para tudo, as receitas para aplicar na nossa vida. Mas Jesus não gostava muito de discursos, nem de receitas, nem de teorias. As parábolas não são historinhas de crianças com uma moral no fim, nem são enigmas secretos! Sempre que Jesus apresenta uma parábola, quer aproximar-nos das lógicas e truques do Amor de Deus para connosco, das lógicas do Reino de Deus… O Reino de Deus é como que a presença e a acção de Deus, do seu Amor em nós e junto de nós, na nossa história, na nossa vida, nas nossas relações… Jesus não dá definições do Reino de Deus, como também não dá normas certas para viver nesse Reino, como o doutor da lei estava habituado… Jesus aproxima-nos da lógica do Amor de Deus, na qual vamos entrando, como numa dança em que vamos aprendendo a música…

Ao contar uma parábola ao doutor da lei, Jesus está a falar-lhe da lógica de Deus, do modo de Deus agir e actuar connosco; é nesse modo de ser que Jesus convida o doutor da lei a entrar… Para falar dessa lógica, Jesus apresenta três personagens que se comportam diante de um homem semimorto: essas personagens são o sacerdote, o levita e o samaritano. O sacerdote e o levita eram funcionários do templo de Jerusalém, o lugar do culto e dos sacrifícios, o lugar mais importante para os judeus religiosos; era lá que estava o deus do doutor da lei a quem Jesus conta a parábola, o deus da lei e do culto. Ora, parece que tanto o sacerdote como o levita não eram exemplo para Jesus: chegaram ao lugar onde estava o homem semimorto, viram e passaram longe.

A outra personagem era o samaritano… Os samaritanos eram um povo que vivia na Judeia, a quem os judeus odiavam porque se tinham separado de Jerusalém. Ora, Jesus apresenta ao samaritano como modelo! Para nós parece banal, mas para aquele doutor da lei foi um gesto muito forte! Foi colocar como modelo do agir e da lógica de Deus a alguém que ele odiava porque os samaritanos eram considerados impuros e não cumpridores da lei e do culto!

Conta Jesus que o Samaritano chegou onde estava o homem semimorto, viu e se compadeceu. Esta é uma lógica muito bíblica, muito presente quando os profetas e todo o Antigo Testamento falam de Deus: o Deus de Israel é o Deus da Graça, o Deus que não está lá no alto à espera dos nossos cultos e das nossas boas obras, mas o Deus que se aproxima de Deus, o Deus que nos vê e nos conhece muito bem, e o Deus que se compadece… A Compaixão, na Biblia, é uma experiência muito forte e importante: Deus revolta-se dentro de si, nas suas entranhas, quando vê o sofrimento e a morte. O Deus de Jesus é um Deus com sentimentos e atitudes, não um deus frio e imóvel como tantas vezes fizemos dele! Por exemplo, quando a Biblia fala de Moisés, diz que Deus viu o Povo que estava na escravatura no Egipto e se compadeceu, se revoltou. E então, aproximou-se para libertá-lo do Egipto e conduzi-lo à Terra Prometida!

É essa a experiência que o Samaritano faz: aquele homem semimorto estava totalmente dependente, à espera, sem poder fazer nada nem retribuir… E o Samaritano aproximou-se! A lógica de Deus é a lógica da Graça, da Compaixão, do Aproximar-se de nós, sem que possamos merecer ou retribuir o seu Amor! O Samaritano aproxima-se, cura o homem semimorto, coloca-o na sua própria montada e cuida-o.

No final, Jesus pergunta ao doutor da lei: que se comportou como próximo? A pergunta do doutor da lei tinha sido “quem é o meu próximo?” Na lógica do Deus da Graça, na lógica do Reino o próximo é aquele de quem me aproximo, independentemente de todas as separações que havia entre judeus e samaritanos, sacerdotes e pecadores, doutores da lei e os “simples” do Reino… Acolher a Vida de Deus é entrar nesta dinâmica do Reino, neste Amor que se aproxima, desde Deus até nós, desde nós até aos nossos semimortos. Na Graça, na Compaixão, no Aproximar-se.

Moral da história? Não há! “Vai e faz o mesmo”!
um grande abraço

2 comentários:

Anónimo disse...

Perfeitamente entendido Rui Pedro!

Continuo a gostar muito do que escreves,obrigada!
Um grande abraço.

Anónimo disse...

Obrigada Rui Pedro!
Simplesmente Obrigada...
Vamos todos fazer o mesmo!
Beijinhos muito grandes