quarta-feira, 14 de maio de 2008

Esperar por Deus

Partilho convosco mais um texto de Timothy Radcliffe op, Que sentido tem ser cristão? que me parece muito interessante.


Porque é tão importante a Espera no facto de sermos cristãos? Porque não nos dá Deus de uma vez aquilo pelo qual ansiamos, a justiça para os pobres e a vida perfeita para todos? Passaram-se já cerca de 2000 anos depois da Ressurreição e todavia continuamos a esperar o Reino. Porquê? Uma das razões pelas quais o nosso Deus precisa de tanto tempo é porque ele não é um deus.
O nosso Deus não é um superman celestial e poderoso, tipo um presidente Bush à escala cósmica, que pudesse irromper inesperadamente do exterior. O advento de Deus não é como uma cavalaria acudindo a resgatar-nos. Deus vem desde dentro, desde a nossa mais profunda interioridade. Deus está, como diz S. Agostinho, mais próximo de nós do que nós mesmos ou, como diz o Al Corão, mais próximo de nós que a nossa veia jugular.

Deus vem a nós como uma criança vem a uma mãe, das profundidades do seu ser, através de uma lenta transformação do ser da mãe. O contrário suporia uma violência e uma violação. Somos corpos, e os corpos vivem no tempo. Tal como uma gravidez demora nove meses e os ossos partidos precisam de tempo para recuperar, ou como uma febre que precisa de tempo para ser curada.
A cura e o crescimento precisam de tempo. Temos que ser pacientes, porque Deus vem a nós não como um agente externo, mas da própria intimidade do nosso ser corporal, que vive no tempo. Os seres humanos distinguem-se dos animais porque demoramos tempo a amadurecer, e a nossa esperança reside n’Aquele que se tornou humano e que respeita o ritmo do nosso viver.

Fizeram falta milhares de anos para que houvesse uma linguagem na qual a Palavra de Deus se pudesse expressar sob a forma de Jesus. Foram necessárias todas aquelas experiencias de libertação e exílio, de surgimento e destruição de reinos. Foram necessários inumeráveis profetas e escribas, poetas e padres, lutando por encontrar as palavras antes de que Jesus pudesse vir à luz como a Palavra. A Palavra de Deus não desce dos céus como um meteorito; brota dentro da linguagem humana. As dores de parto da Palavra começaram quando os primeiros seres humanos começaram a falar.

Quando rezamos hoje em dia pela chegada do Reino, ou simplesmente para que deixe de doer-nos a cabeça ou encontremos um emprego, Deus nem sempre responde à maneira de um mago celestial fazendo aparecer umas soluções externas numa questões de instantes. A maioria das vezes, Deus vem a nós de forma sigilosa e imperceptível, respeitando infinitamente os ritmos próprios da nossa existência humana.
“Velai, porque não sabeis a hora nem o dia em que virá o vosso Senhor” (Mt 24, 42). Esta vigília é uma preparação activa para a vinda de Deus, à maneira do jardineiro que cava o solo e o húmus, afim de que a terra possa dar as boas-vindas à semente no momento da sementeira.
Timothy Radcliff op
um grande abraço

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