sexta-feira, 16 de maio de 2008

Salvos para...

Ao ler este texto, convido-vos a recordar uma reflexão que fiz sobre o mal, em Novembro.
A palavra Salvação é daquelas que tem desaparecido das nossas conversas e catequeses. Talvez seja pela imagem negativa, obscura, que se transmitiu: uma imagem negativa do Homem, dominado pelo mal, pelo pecado, afogado, condenado, tudo isso. A Salvação era tipo o SOS de Deus a esta situação.

Primeira coisa: o cristianismo nasce de um Evangelho, de uma Boa-Notícia! Uma Notícia de alegria, de esperança, de novidade, um grito de libertação! É isso que os primeiros discípulos experimentam desde as mais fundas cordas vocais, quando anunciam a Ressurreição do Justo! A Salvação não diz mal do Homem, grita a sua vocação mais bela e sublime!

Salvação vem de Salus, do latim, que significa saudável, forte, robusto: é uma ideia positiva. A Salvação não é só de algo, é para algo, é um salto, uma vocação, um destino! Não tem só a ver, nem sequer principalmente, com o pecado, tem a ver com a vocação do Homem que é levada à sua Plenitude! “Representa a sua luta e a sua aspiração a fazer todo o possível para chegar a ser o que pode e quer ser, superando os obstáculos à vocação que lhe foi dada!” (A. Gesché)

Salvação não é só, nem principalmente, salvar alguém do mar onde se está a afogar. Salvar é realizar as mais profundas e plenas possibilidades e expectativas do ser humano, é revelar e abrir as portas à Festa para onde caminha, a própria vida de Deus! É essa a Boa-Nova da Ressurreição de Jesus, que nasce ao longo do Antigo Testamento e explode no Novo: o Homem, sonhado desde a Criação, é assumido na Vida pela qual anseia, o Paraíso prometido do Génesis: “Levar o Tempo à sua Plenitude: em Cristo encabeçar todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra!” (Ef 1, 10) Anunciar a Salvação é anunciar esta Plenitude à qual a Humanidade está desde já chamada e convidada!

Então, não somos salvos de nada? Claro que somos, somos salvos dos últimos inimigos, aqueles que mais odiamos: “A Morte foi absorvida na vitória. Ò Morte, onde está a tua vitória? Ò Morte, onde está o teu aguilhão?” (1Cor 15, 55) A grande proclamação da Ressurreição é a vitória sobre os três grandes inimigos da dignidade do Homem: a morte, a fatalidade, e o medo.

“O grande leitmotiv do Novo Testamento é: Levantai-vos, não tenhais medo!” (Mt 17, 7). Nos primeiros séculos do cristianismo, este provocou escândalo porque ousou proclamar algo absolutamente novo para as culturas grega e romana: o Homem não vive dominado pelo destino, a sorte, o azar, a casualidade, os astros e signos, o mal, os deuses… as crises económicas, os maus políticos, a sociedade! (isto já é hoje)

Não, o Homem é senhor do seu destino, da sua vida, está chamada a uma Vida em Plenitude que deve construir, abraçar, caminhar! O Homem bíblico é o Homem a caminho, rumo à Terra Prometida, a Terra da Liberdade, que é isso: Prometida e Cumprida! Já talvez por isso dizia Marx: foi o cristianismo que chamou o Homem a construir a sua própria história, que desfatalizou o mal! (se calhar, é por isso que aprendi com a minha mãe a atracção pelo Socialismo…)

O grito da Salvação é o grito da Liberdade, da Dignidade do Homem! O Homem não termina nem é definido pelo pecado (o que é senão a grande catequese da Mulher que, lá por ter cometido adultério, não quer dizer que seja Adultera, de Jo 8?). A vida do Homem não termina nem é definida pelo medo, pela morte, pela fatalidade. Não, o Homem é um Projecto, uma Economia de Amor, sonhado para uma Vida em Plenitude que ansiamos, procuramos, e para a qual caminhamos. “Levantai-vos…

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado pela profundidade e clareza deste post.
Sinto que a tua fé é uma realidade que já faz parte de ti.
Obrigado por tudo!