terça-feira, 16 de setembro de 2008

Igreja e Renovação (Haring) II:Bispos e Presbíteros como Mártires

«A palavra “mártir” originalmente significa testemunha da fé. Nesse sentido, os Apóstolos, os seus sucessores, e todos os crentes de todas as épocas são chamados a render testemunho de Jesus Cristo, o seu Evangelho, e o Plano Salvífico de Deus. Os primeiros bispos normalmente não tinham mais cristãos nas suas dioceses que um pastor pode ter numa paróquia actual. O tamanho relativamente pequeno das dioceses permitiam aos bispos estarem próximos das pessoas. Eles nem possuíam palácios nem viviam uma vida de opulência e privilégios. Na sua vida quotidiana, eles vivam ao mesmo nível que qualquer dos seus irmãos e irmãs cristãos. O que verdadeiramente os distinguia da maioria dos fiéis era o seu testemunho tangível da morte e Ressurreição de Jesus que os tornava candidatos ao martírio. De facto, isto era constitutivo da sua consagração.

Pela metade do segundo século, os bispos ou vigilantes (episcopos) eram guias ao lado dos anciãos nas suas respectivas dioceses. Não é ainda claro como se distinguiam dos anciãos (presbíteros). Uma coisa é certa, todavia. Nenhum tinha saudades ou tendências aristocráticas. Por vezes, ao longo da história da Igreja, muitos tornaram-se modelos de sacerdócio como mártires-testemunhas. Nas recentes décadas, esta imagem é especialmente evidente na America Latina onde muitos, se não todos, os bispos e presbíteros permanecem ao lado dos pobres, arriscando o martírio nas mãos dos ricos. É esta qualidade exemplar que os distingue dos restantes bispos e presbíteros presos a uma ambição pomposa, a atitudes aristocráticas, a títulos derrubados, e a um comportamento autoritário em proveito próprio.

Com a vitória de Constantino e a subsequente aliança que a Igreja fez com o imperador e os nobres, materializou-se um novo e chocante paradigma de uma Igreja monárquica – um paradigma tornado visível especialmente por esses bispos que alegremente aceitaram os espólios de privilégios e de classe. Livres da pobreza, perseguição e martírio, tragicamente eles perderam, em grande parte, a aquela liberdade que todos recebemos em Cristo.

Constantino e os imperadores seguintes, reis e príncipes perceberam astutamente que a Igreja cujos lideres fossem privilegiados por decretos civis e consequentemente dependentes do trono tornar-se-iam muito úteis ao seu poder falsamente sacralizado. A nomeação pelo rei dos bispos do império ou do reino foi um horrível símbolo dos “sacerdotes do rei” de uma “gloriosa” Igreja. Dada tal “lógica”, não será surpreendente que, nesta ímpia aliança entre imperadores, oficiais da Igreja e até papas, a questão de quem seria o maior estaria sempre presente. E tudo no nome do Deus de Jesus Cristo! Enquanto isso foi entendido pelos lideres eclesiásticos como a crescente glória da Igreja, tornou-se, pelo contrário, a queda total da Igreja, se entendida à luz da chamada de Jesus como o Filho do Homem, na sua consagração baptismal no Jordão, e na sua entrega até ao sangue.

Enquanto que o insidioso impulso de partilhar o poder com as autoridades civil desta maneira existe em qualquer religião, continuam esculpidas nas suas paredes as satânicas tentações totalmente desmascaradas por Cristo o Profeta, tal como são reveladas no midrash do Evangelho de Mateus
Bernard Haring cssr: Priesthood Imperiled

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