
Pela metade do segundo século, os bispos ou vigilantes (episcopos) eram guias ao lado dos anciãos nas suas respectivas dioceses. Não é ainda claro como se distinguiam dos anciãos (presbíteros). Uma coisa é certa, todavia. Nenhum tinha saudades ou tendências aristocráticas. Por vezes, ao longo da história da Igreja, muitos tornaram-se modelos de sacerdócio como mártires-testemunhas. Nas recentes décadas, esta imagem é especialmente evidente na America Latina onde muitos, se não todos, os bispos e presbíteros permanecem ao lado dos pobres, arriscando o martírio nas mãos dos ricos. É esta qualidade exemplar que os distingue dos restantes bispos e presbíteros presos a uma ambição pomposa, a atitudes aristocráticas, a títulos derrubados, e a um comportamento autoritário em proveito próprio.
Com a vitória de Constantino e a subsequente aliança que a Igreja fez com o imperador e os nobres, materializou-se um novo e chocante paradigma de uma Igreja monárquica – um paradigma tornado visível especialmente por esses bispos que alegremente aceitaram os espólios de privilégios e de classe. Livres da pobreza, perseguição e martírio, tragicamente eles perderam, em grande parte, a aquela liberdade que todos recebemos em Cristo.
Constantino e os imperadores seguintes, reis e príncipes perceberam astutamente que a Igreja cujos lideres fossem privilegiados por decretos civis e consequentemente dependentes do trono tornar-se-iam muito úteis ao seu poder falsamente sacralizado. A nomeação pelo rei dos bispos do império ou do reino foi um horrível símbolo dos “sacerdotes do rei” de uma “gloriosa” Igreja. Dada tal “lógica”, não será surpreendente que, nesta ímpia aliança entre imperadores, oficiais da Igreja e até papas, a questão de quem seria o maior estaria sempre presente. E tudo no nome do Deus de Jesus Cristo! Enquanto isso foi entendido pelos lideres eclesiásticos como a crescente glória da Igreja, tornou-se, pelo contrário, a queda total da Igreja, se entendida à luz da chamada de Jesus como o Filho do Homem, na sua consagração baptismal no Jordão, e na sua entrega até ao sangue.
Enquanto que o insidioso impulso de partilhar o poder com as autoridades civil desta maneira existe em qualquer religião, continuam esculpidas nas suas paredes as satânicas tentações totalmente desmascaradas por Cristo o Profeta, tal como são reveladas no midrash do Evangelho de Mateus.»
Bernard Haring cssr: Priesthood Imperiled
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