quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sonhar uma Igreja... (III)

«Teve Jesus uma estratégia politica?

«Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22,21). Tal foi a resposta de Jesus à pergunta sobre o modo em que hão-de separar-se os poderes. A cooperação entre instituições religiosas e estatais, entre associações humanitárias, iniciativas sociais particulares e organizações do Estado é importante. Precisamos de todas as nossas forças para que não haja mais homens a passar fome.

O característico de Jesus é o Amor aos inimigos. O teólogo judio Pinchas Lapide o disse ainda melhor: ele fala com sumo respeito acerca do «amor des-inimistador» de Jesus. Desse modo se explicita com mais clareza o lado activo, inventivo, que é necessário para o processo de paz. Ao que te esbofeteia numa face, oferece-lhe também a outra. Quer dizer: surpreende o teu inimigo e observa o que se passa. Uma abordagem prévia, uma surpresa, um ir ao encontro do outro faz que mais de que uma inimizade venha abaixo.

Se arriscamos uma olhadela ao Sermão da Montanha, revela-nos o seguinte: a quem declara Jesus felizes? Não aos vencedores, senão aos perseguidos. Não aos felizes, senão aos tristes. Não aos que possuem bens, senão aos pobres e famintos. Não aos adaptados, senão aos maltratados. Jesus despertou as forças interiores dos pobres e fez a partir disso politica. A estratégia politica de Jesus começa com o facto de que percebe as necessidades dos homens. É que ele vive com eles. São muitíssimos os homens que pedem a sua ajuda, mas ele não se resigna, senão que procura jovens e os forma como seus colaboradores, como apóstolos.

Esta formação dos seus discípulos era inteiramente politica. Eles aprenderam o que Jesus queria justamente através dos enérgicos confrontos que Jesus manteve ou teve que manter com os opositores políticos. Jesus orientou o olhar dos seus discípulos às necessidades dos pagãos, que não conheciam a Deus nem a dignidade do Homem. Os seus discípulos deviam ir aos que procuravam ajuda e fazê-los sentir o Amor de Deus, que tem por destinatários a todos os homens.

A vida de Jesus culmina na Cruz. Ele pagou o seu compromisso com a vida. Talvez haja que renunciar ao êxito para ter êxito. E isso é mais que uma estratégia inteligente contra o mal. A entrega da vida não pode explicar-se facilmente de forma racional. Essa entrega é possível com a confiança n’Ele. »
Carlo Martini, Colóquios Nocturnos em Jerusalém, p. 188
Um grande abraço

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