segunda-feira, 23 de março de 2009

Apareceu...

«Lembro-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto. É que eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus» (1Cor 15,1-8)

No centro ou no seio do que chamamos o Novo Testamento, está uma fortíssima e tremenda experiencia de encontro pessoal. O Novo Testamento é um conjunto de escritos e testemunhos de discípulos que reconheceram e experimentaram o encontro com alguém Vivo e Presente para além da experiencia da morte. Apareceu. Uma Pessoa que eles conheceram. Jesus.

Recebo nas mãos estes textos e escuto o testemunho de uma experiencia, um encontro que ultrapassa as palavras. O centro do Novo Testamento não é uma qualquer ideia sobre a ressurreição, a vida além da morte, a salvação moral. É o Ressuscitado. O seu centro é o Ressuscitado. Uma Pessoa. É por Ele, para Ele que o Novo Testamento nasce e existe. Como a Igreja, a Comunidade dos Discípulos.

Os testemunhos que encontramos falam-nos de um Encontro, Pessoal. Por detrás está a Marca, a Autoridade que possui a vida daquele Homem: no seu ensino, nas suas atitudes, na mediação de libertação que é, no movimento de discípulos que convoca, está uma Autoridade que só pode vir de Deus. Uma Autoridade, uma Missão que não termina na morte. «Deus ressuscitou-o, libertando-o dos grilhões da morte, pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte» (Act 2,24).

Na Experiência Pascal está um movimento de Re-União dos discípulos, de homens e mulheres marcados pelo encontro histórico com Jesus. Aquele Homem tinha autoridade suficiente para colocar a vida nos seus passos, no seu caminho, como seus discípulos: porque reconhecem ser um caminho de Liberdade. «Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» (Jo 1,38)

Agora, o movimento repete-se: re-unidos e convocados por uma experiencia de Memória, de uma Vida marcada, os discípulos reconhecem que é o Mestre quem os re-une, une de novo, convoca de novo. É Ele. Está a re-unir-nos para si, unir-nos de novo. Está vivo. Ressuscitou. Deus o Ressuscitou. «Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar. Lançaram-na e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar. Então, o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!» (Jo 21,6-7).

E vão ler toda a História, todo o Projecto de Deus para a Humanidade, todas as Promessas que Deus fez ao seu Povo pelos Profetas, pelas Escrituras. E reconhecem um Sentido. Sim, tem Sentido. Faz Sentido. Todas as Promessas conduzem para este Homem. É Ele o Eleito, o Ungido, o Messias. Deus confirmou-o e consagrou-o o Messias, como um Rei, a Cabeça, o Primogénito da Nova Humanidade. Cumpre-se o Projecto: «E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito» (Lc 24,27).

Uma Experiencia de encontro, ou re-encontro pessoal. Que re-une e acontece na comunidade, onde Tomé tem de estar para Ver (Jo 20,24). Que ganha todo o sentido à luz da História, do Projecto de Deus com a Humanidade. Que permite compreender que, afinal, a Autoridade com que aquele Homem marca a vida de homens e mulheres não termina na morte, mas é uma Presença que continua e renova, agora universal. «Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.» (Mt 2,20).

E fechando o livro destes testemunhos que eu recebi, de homens e mulheres, levanto os olhos e reconheço que continua a acontecer tudo isto. E que Mistério de Vida é este, e que Presença Soberana é esta. E fechando os olhos, procuro agradecer e compreender mais um pouco…

Uma boa semana e bom Encontro.

1 comentário:

Anónimo disse...

obrigado Rui Pedro
A Fé Cristã, de facto, não é um sistema filosófico,mas um jeito de viver provocado pela experiência de um encontro íntimo com um ressuscitado!
Um Abraço
Calmeiro Matias